Falando de prioridades


Há algum tempo comentei que ando com vontade de escrever mais. E nas últimas semanas, algumas cenas chamaram a atenção para como as prioridades estão desvirtuadas hoje em dia, atiçando ainda mais esta minha vontade. Ok, o tema não é exatamente uma novidade, mas talvez o curto intervalo entre as cenas mostradas na TV tenha ajudado a me "chocar".

Por um lado, vimos a repetição das cenas frente aos portões das escolas que aplicavam o Enem: o desespero daqueles que chegaram atrasados e que, com isso, perderam a oportunidade de fazer as provas. Ao lado dos motivos para o desespero, dentre os quais se destaca a necessidade de adiar o sonho da faculdade, encontramos um desfile de desculpas as mais esfarrapadas. O trânsito, o ônibus que atrasou, o esquecimento do documento de identidade, o erro de local ou a informação errada (ambos porque não conferiu antes onde seria realizada a prova), o dormir tarde (porque "saiu para beber, achando que ia relaxar"), enfim... tudo é motivo para explicar o inexplicável.

Por outro lado, entretanto, encontramos (apenas alguns dias depois) filas e filas de pessoas acampadas, dias a fio, à espera do show do Justin Bieber. Alguns acampamentos chegaram a começar DEZ DIAS antes do show! Oi??? Será que alguém vai perder o show por causa do trânsito, do ônibus, ou porque esqueceu o documento em casa? Será que vai parar no lugar errado porque não prestou atenção onde o show seria realizado? Aposto que não.

Nada contra quem gosta do Justin Bieber. Gosto não se discute, afinal de contas. Tampouco estou discutindo a questão do Enem, da Educação, do processo seletivo para as faculdades, isso é tema bem mais complexo. Mas a contradição existente entre as duas cenas é gritante! Enquanto uma prova, que deveria ter a finalidade de propiciar o ingresso em uma faculdade e, por tabela, a formação na profissão escolhida, é tão desprezada, um show de música é supervalorizado. 

E aí vem a triste constatação de como os valores estão invertidos... como as prioridades estão trocadas, como se sabe, cada vez menos, o que realmente importa. Claro que não se pode generalizar, nunca. Há, dentre a multidão de jovens, aqueles que se empenham de fato para conseguir ingressar na faculdade escolhida. Óbvio que sim.

Mas o que choca, de fato, é perceber que esse exemplo se repete em todos os campos de nossas vidas. Quantas e quantas pessoas vão às ruas lutar contra a corrupção mas que, na primeira oportunidade, oferece um dinheirinho para o guarda aliviar a multa, ou que vota no candidato que lhe promete uma cesta básica (ou um emprego, ou um par de sapatos, ou...)? Quantas e quantas pessoas criticam os governantes, ou reclamam das enchentes, ou defendem a ecologia, mas não pensam duas vezes antes de jogar lixo nas ruas, nos rios? Quantas e quantas pessoas se dizem muito religiosas (independente de qual seja sua crença), mas esquecem o que é humildade, caridade, amor ao próximo?

O que realmente importa? O que deve ser prioridade? É hora de rever muitos conceitos...

Eu volto.

Andréa

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