Está o homem involuindo?


Juro, tenho me perguntado isso com uma frequência cada vez maior. As coisas que tenho visto, lido, observado por aí, andam me assustando demais. Parece que o homem anda esquecido do que é amor ao próximo, respeito, solidariedade, compaixão. Sem querer generalizar, claro, porque graças a Deus tem muita gente boa por aí ainda, mas a percepção de pensamentos pequenos, mesquinhos, maldosos tem crescido de uma forma impressionante.

Aliás, generalizar é algo que nunca dá certo. Não pode dar. Generalização é irmã gêmea do preconceito. Quando se generaliza um pensamento junta-se todas as pessoas que têm uma característica, um pensamento, uma atividade, como se fossem todos uma mesma criatura, ou uma “raça” à parte. Não é porque alguém ou uma série de pessoas faz ou age de forma errada que todos são assim. Há, sempre, que se separar o joio do trigo! Por exemplo, essa semana viralizou a foto de um filhote que teve seu pênis arrancado para ser vendido como fêmea. Só que viralizou unido a comentários como “é isso que você consegue quando compra um cachorro”, “quem quer cachorro de raça é conivente com essas coisas”, “uma pessoa que cria um cachorro só visa o lucro, não tem amor”, e daí para pior.

Gente, calma... eu até concordo que há um grande número de criadores que são mercenários, cruéis, antiéticos, como há em qualquer atividade. Mas há também um grande número de criadores que não são assim! Ok, adotar é ótimo, eu tenho dois vira-latas em casa. Mas os cães de raça têm características que são próprias de cada uma, e que algumas pessoas se identificam com elas. Eu mesma AMO cachorros da raça boxer, sonho com o dia que terei outro! A criação, sendo feita corretamente, não é problemática. Cabe a quem quer adquirir um cão de raça procurar quem trabalha direito. Ou será que quem defende a adoção defende também o extermínio dos cães de raça? Só que uma criação é algo de grande responsabilidade, que demanda custos elevados, e a venda dos filhotes vem cobrir isso. O fato de alguém querer ter um cão de raça (e ter condições para adquirir um) não a torna um crápula sem coração.

Da mesma forma, uma mulher que fez tratamento para engravidar não é menos do que aquela que adotou. A que sonha em adotar um bebê não é menos do que aquela que adota um trio de crianças maiores ou uma criança com deficiência. Já vi em grupos de apoio à adoção mensagens bem duras neste sentido. Mas cada pessoa é de um jeito, tem um sonho, um ideal, uma crença, e o fato de não pensar como você não significa que seja um lixo, como as pessoas fazem crer.

Então nesse, como em qualquer assunto, é preciso ter discernimento e cuidado para não generalizar e colocar todas as pessoas num mesmo patamar, normalmente nivelados por baixo. Essa mania de generalização acarreta, muitas vezes, o que comentei no início: pensamentos mesquinhos, pequenos, maldosos mesmo.

Basta ver o que acontece em qualquer notícia divulgada na internet. Os comentários que vêm abaixo 
dela ou nos compartilhamentos em rede social são, na maior parte das vezes, terríveis! Pior, tem comentários que não tem relação com a notícia em si, que são colocados apenas para fazer mal, não há outra explicação. Comentei sobre isso aqui no blog há algum tempo, mas tem crescido de forma assustadora.

É só pegar como exemplo essa tragédia envolvendo o Domingos Montagner. Algo totalmente inesperado, que acabou causando uma comoção pela forma como ocorreu. Morte tão estúpida, tão repentina! Um excelente ator, pai de três crianças pequenas, que parecia ser uma pessoa incrível, pelos muitos depoimentos que foram dados. Um choque também pela Camila Pitanga, que estava com ele e que sofreu algo inimaginável com tudo isso. Alguém é capaz de mensurar a sensação de impotência (e até de culpa, por mais absurdo que isso pareça) dela ao vê-lo lutar, ela estender a mão e não conseguir segurá-lo, e depois acontecer isso tudo? Deve ser algo como senti quando minha mãe teve o enfarto e eu coloquei a mão nela mas não senti mais nada... não havia mais o que fazer, ela escapou por entre meus dedos. Levei anos para apagar essa sensação! Então não foi à toa que até quem não tem hábito de ver TV se sensibilizou com a história.

Ainda assim, vi alguns comentários que, sinceramente, causam enjoo! Chegaram a sugerir que ela o matou para desviar a atenção do Lula, já que é partidária do PT! Chegaram a postar na página dela que ela é culpada porque não se jogou no rio para buscá-lo! Disseram que os dois tinham um caso! (e se tivessem, ninguém tinha nada com isso, deviam ao menos respeitar a dor da viúva e dos filhos dele) Falaram que ele “mereceu” ou porque era da Globo, ou porque não era de Cristo, ou porque era corinthiano... sério, não posso acreditar que as pessoas pensam e pior, têm coragem de expressar, essas coisas! É nojento demais! Sem contar os que ainda fazem piada com o assunto, ou que postam fotos do corpo! Não consigo entender. De verdade.

Vale para tudo. Porque tudo, tudo MESMO, é motivo de brigas homéricas, de ofensas, de gente se achando “dona da verdade” com direito a dar pitaco na vida alheia, de julgar o outro como se fosse o primor da perfeição. Olha o caso desse jogo, “Pokemon Go”! Um jogo! J-O-G-O! As coisas que li sobre isso são tão absurdas que nem sei! Como pode um jogo para celular despertar tantos e tão díspares intensos sentimentos?

Confesso que fiquei bem preocupada no início, ao ver o mecanismo do jogo, por uma questão de segurança. Mas não por causa da CIA saber onde eu moro, mas porque poderia haver um jeito de pessoas inescrupulosas usarem essas informações.

Quando o jogo chegou ao Brasil, minha timeline no Facebook começou a “pipocar” com mensagens contra e a favor. Mas se as que eram a favor eram leves, divertidas até, as que eram contra apontavam o jogo como coisa “daquele” que nem cito o nome, ou mostravam notícias falsas, comprovadamente, em que as desgraças só tinham ocorrido “por culpa do jogo”.

Ao mesmo tempo, comecei a observar uma mudança no comportamento da cidade. Pessoas circulando em grupos, o centro fervilhando, amigos comentando que estavam deixando o sedentarismo de lado. E ainda surgiram notícias de ações positivas usando o jogo. Hospitais que usavam para fazer as crianças em recuperação saírem da cama, professores aproveitando o tema para ensinar trigonometria, geografia, química... (acabei, eu mesma, instalando para ver como era, e curti o negócio... ando bastante mesmo, é uma distração bem legalzinha)

Percebem como nada é totalmente negativo ou positivo? Não se deve generalizar. Isso deveria ser uma regra básica na vida de cada um. Ao invés de julgar o outro por uma ou outra coisa, olhe para o todo. Ninguém é perfeito e, menos ainda, senhor da verdade. Nem você. Nem eu. Ninguém mesmo.

Então, antes de colocar uma crítica ácida numa notícia ou numa postagem, veja se é de fato pertinente, se vai acrescentar algo ou se apenas vai botar mais “lenha na fogueira” ou “destilar um veneninho básico”. Se uma pessoa faz, fala ou escreve algo que você não concorda, antes de simplesmente excluí-la do seu círculo (essas “amizades” descartáveis me assustam!), de bloqueá-la, observe o restante dela. Faça como na história que deixo ao final deste texto, que li em criança, num livro encantador que ganhei de presente de meus avós, e carrego como Lei para a vida.

Aí, quando já estava com esse (mini) texto praticamente pronto, assisti um vídeo do Papa Francisco falando das religiões. Não sou católica, mas admiro este papa, que vem me surpreendendo muito positivamente, e novamente agora. É um vídeo em que ele prega o respeito e o diálogo entre as pessoas de diferentes religiões, fala do respeito às diferenças, fala de AMOR. Mas, pasmem! Existe uma onda de comentários absurdos, de pessoas das mais diversas religiões, atacando o vídeo e o papa pelos motivos mais insanos! Tem gente chamando-o de herege! Questionando a religião DELE, como se fosse um “traidor da fé”! Chegam a compará-lo ao anticristo! Pessoas com um pensamento tão radical, tão fundamentalista, que eu me pergunto o que aprenderam com as suas religiões... não foi nada disso que o Cristo nos falou! Aliás, Ele sequer fundou uma religião, então quem somos nós para apontarmos esta ou aquela como a “verdadeira”? A Verdade está dentro de cada um, e mais importante do que seguir esta ou aquela religião (ou não ter nenhuma, ou mesmo não acreditar em nenhuma) são as atitudes que tomamos diante da vida. Um ateu pode ser muito mais solidário, amoroso, correto, do que aquele que se diz religioso!

Cada um de nós, acredite nisso ou não, está encarnado para aprender e para evoluir. Para crescer como indivíduo e como ser espiritual. Façamos, então, uso desta experiência da melhor forma possível. Aproveitemos essa oportunidade de forma plena. Sigamos os preceitos do Cristo ao olhar para o outro, fazendo isso com AMOR, com compaixão, com respeito. Não apontando seus defeitos, mas observando suas qualidades. A sua vida vai ficar mais leve, tenho certeza. E o astral do nosso planetinha vai agradecer!

Eu volto! (só não perguntem quando!)

Andréa

A BALANÇA
(Wallace Leal V. Rodrigues)

Quando menino eu vivia brigando com meus companheiros de brinquedos. E voltava para casa lamuriando e queixando-me deles. Isto ocorria, as mais das vezes, com Beto, o meu melhor amigo.

Um dia, quando corri para casa e procurei mamãe para queixar-me do Beto ela me ouviu e disse o seguinte:

- Vai buscar a sua balança e os blocos.

- Mas, o que tem isso a ver com o Beto?

- Você verá... Vamos fazer uma brincadeira.

Obedeci e trouxe a balança e os blocos. Então ela disse:

- Primeiro vamos colocar neste prato da balança um bloco para representar cada defeito do Beto. Conte-me quais são.

Fui relacionando-os e certo número de blocos foi empilhado daquele lado.

- Você não tem nada mais a dizer?

Eu não tinha e ela propôs: Então você vai, agora, enumerar as qualidades dele. Cada uma delas será um bloco no outro prato da balança. Eu hesitei, porém ela me animou dizendo:

- Ele não deixa você andar em sua bicicleta? Não reparte o seu doce com você?

Concordei e passei a mencionar o que havia de bom no caráter de meu amiguinho. Ela foi colocando os blocos do outro lado. De repente eu percebi que a balança oscilava. Mas vieram outros e outros blocos em favor do Beto.

Dei uma risada e mamãe observou:

- Você gosta do Beto e ficou alegre por verificar que as suas boas qualidades ultrapassam os seus defeitos. Isso  sempre acontece, conforme você mesmo vai verificar ao longo de sua vida.

E de fato. Através dos anos aquele pequeno incidente de pesagem tem exercido importante influência sobre meus julgamentos. Antes de criticar uma pessoa, lembro-me daquela balança e comparo seus pontos bons com os maus. E, felizmente, quase sempre há uma vantagem compensadora, o que fortalece em muito a minha confiança no gênero humano.  


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