quinta-feira, 20 de junho de 2019

Tempo, tempo, tempo...


Há alguns meses resolvi que voltaria a escrever. É algo que gosto demais de fazer, que me faz muito bem, inclusive. No entanto, após alguns poucos textos, parei novamente. E o motivo foi o cansaço extremo que tenho sentido com a intolerância vigente nos dias de hoje. Sério. Eu sei que nem vem exatamente de hoje, porque já toquei neste assunto algumas vezes, mas ao invés de melhorar vem piorando assustadoramente. E o mais grave, vindo de pessoas que quero muito bem, que conheço de longa data.
Durante as eleições de 2014, a política virou quase que uma partida de futebol entre times arquirrivais, onde os nervos inflamados tiraram completamente a razão das pessoas. Em vez demostrar as qualidades de seus candidatos, as pessoas apenas apontavam as falhas dos oponentes, sem se preocupar com a veracidade do que era divulgado. Amizades foram desfeitas, pessoas foram atacadas por não concordar com determinada opinião. Era como se apenas existissem dois caminhos: a favor do PT ou contra ele. Esperava-se que, passadas as eleições, os ânimos amainassem. Ledo engano...
Dilma venceu, e a guerra se intensificou ainda mais entre esquerda e direita. Foram quatro anos recheados de fake news onde a menor preocupação era com a verdade. O importante era atacar (ou defender) o PT, da forma mais incisiva possível. Com todos os escândalos que foram acontecendo neste período, impeachment de Dilma, prisão de Lula, os ataques (e a defesa do PT, em contrapartida) se multiplicaram, explodiram!
E então começaram a se aproximar as eleições de 2018 e, com elas, mais uma vez, a guerra entre esquerda e direita se acentuou. E, apesar de haver diversos candidatos em oposição ao governo que se encerrava, os eleitores "de direita" foram se concentrando no candidato mais extremista possível, aquele que destilava discursos de ódio, preconceito e intolerância nos mais diversos aspectos. Compreensível por um lado, assustador por outro, dia após dia o dito candidato foi crescendo nas pesquisas, como se não houvesse outra opção, chegando ao segundo turno contra o candidato do PT. E aí, acentuando ainda mais os extremismos, acabou por sair vitorioso.
Bom, pelo menos agora a "guerra" diminuiu, né? Qual nada! Apenas houve uma troca entre "situação" e "oposição", porque de resto... tudo continua igualzinho. Ou até pior! Porque durante o governo do PT (ou do Temer, após a queda da Dilma), as defesas e as críticas ocorriam, muitas vezes utilizando mentiras, mas era diferente de agora. Agora as pessoas que votaram no atual presidente parecem que precisam "provar" que fizeram a escolha certa, então defendem atitudes absurdas do novo governo (e, sim, são muitas), armando-se de argumentos os mais absurdos, utilizando-se dos mesmos componentes de intolerância, ódio, preconceito que o então candidato utilizava na eleição. Por outro lado, os esquerdistas vêm atacando estas mesmas atitudes com argumentos muitas vezes vazios ou que apenas defendem a liberdade de Lula. Continuamos vivendo em polaridades, como eu disse em um texto anterior.
Os dois lados, para embasar seus pontos de vista, disseminam fake news, como antes, sem o menor pudor. Pior, alguns nem se importam MESMO com o fato de estar divulgando mentiras! Sério! Estes dias alertei uma amiga sobre uma notícia de 2014 (!!!) que ela estava compartilhando como atual, e ela me respondeu "mas bem que podia ser de agora". Podia, não era, era justamente do governo petista que ela tentava atacar, bolas! Então, se ela estava aplaudindo a notícia como algo positivo, estava, ainda que indiretamente, elogiando algo ocorrido no governo anterior. O que, claro, não tem absolutamente nada de errado! Nenhum governo (ninguém, na verdade) é 100% bom ou ruim, basta que tenhamos clareza e crítica para reconhecer cada atitude ou fato como deve ser, sem paixões exacerbadas. E o que mais me assusta é ver postagens com este teor vindas de amigos queridos, que conheço de longa data, e que eu SEI serem pessoas boníssimas, com atitudes na vida pessoal muito diferentes do discurso que vêm propagando.
Em tempo: NUNCA votei no PT (apesar de ter balançado no segundo turno das eleições de 1989 e nesta de agora, justamente por não querer Collor e nem Bolsonaro), tampouco votei no atual presidente, o que me deixa bastante confortável para concordar ou discordar de quem quer que seja. Até porquê nunca tive "político de estimação". Adorar só adoro a Deus e ao Cristo. Pessoas de carne e osso, para mim, no máximo são amadas, desde que tenhamos consciência de seus defeitos e qualidades. Ninguém é perfeito ou livre de cometer erros, nem eu, nem você, e muito menos os governantes, que em boa parte das vezes vai agir em prol de seus interesses antes de pensar na população.
Não estou aqui me isentando de responsabilidade não, jamais deixei de votar, apenas não consegui MESMO escolher entre dois candidatos que eu simplesmente não queria, seja por questão ideológica, seja por medo (sim, este presidente me assusta MUITO!), e acabei usando meu direito de anular e deixar que os outros decidissem algo que eu não queria de qualquer forma. E, de mais a mais, não estou aqui para debater política. Já parei de falar disso há MUITO tempo, porque realmente não tenho mais paciência. A questão central, para mim, é mesmo a intolerância que impera as relações atualmente. Reais e virtuais. TUDO é motivo de encrenca. Como este meme, que retrata exatamente o que acontece hoje:

Vale para tudo, tudo mesmo, e eu já até falei aqui algumas vezes a respeito. No banco eu percebo pessoas que chegam à agência prontas para brigar, seja qual for o motivo. Como disse ao segurança outro dia: do jeito que as coisas estão, se eu der "bom dia" e já tiver passado de meio-dia, é capaz de gritarem comigo que já é "boa tarde"! Porque está neste nível. As pessoas brigam para ver quem é mais prioritário, pedem informação e não esperam você falar, já saem gritando e dizendo que você não está entendendo, querem ajuda mas não sabem esperar a vez, interrompem o atendimento do outro... é sério! Passo por isso diariamente, várias vezes ao dia!
E na internet, protegidos pela distância física, o fato de não estar "cara a cara", e muitas vezes um "pseudoanonimato", as pessoas se exaltam ainda mais, por coisas muito pequenas! Julgam o outro (e condenam, o que é ainda pior) com uma facilidade absurda. Outro dia, só para dar um exemplo, vi um vídeo muito fofo de uma moça que gravou a cadelinha dela indo até a cerca e dividindo seu cobertor com um cãozinho que estava na rua. Para quê??? Choveram críticas! Que ela tinha que ter colocado um cobertor para o cãozinho! (alguém sabia se ela TINHA um cobertor disponível? Se fosse eu, não teria, lamento.) Mas por quê ela não adotou o cãozinho? (e no post ela até dizia que ele já estava acolhido, mas as pessoas só leem o que interessa...) E por aí foi! Não tem cabimento!!! Se cada um cuidasse mais de sua própria vida e menos da alheia, viveríamos bem melhor, sabem?
E eu estou numa fase que realmente a paciência tem me faltado para essas coisas. Tenho passado tanta coisa desde aquela enchente há mais de oito anos (e não, minha vida não se resolveu desde então, continuo passando "poucas e boas", apesar de poucos saberem a realidade), que sinceramente não dá para ficar procurando "pelo em casca de ovo" e menos ainda me desgastando com o que não vale a pena. Estou muito cansada, de verdade, de ver tanta briga, tanta mentira, tanto ódio sendo espalhado, ainda mais precisando manter a cabeça serena para dar conta da minha vida e dos rolos que vêm se acumulando desde 2011.
Com isso, fui parando de escrever... até elaborei uns dois ou três textos, mas não publiquei. E por enquanto vou dar um tempo por aqui mesmo. Não vou desativar o blog por completo, porque ainda pretendo voltar em algum momento, e também quero reativar a loja, estou trabalhando para isso mas as "encrencas" interferiram na forma como vou poder fazer isso. Então prefiro por enquanto ficar mais na minha, curtindo Gregório e Ágatha, e a delícia de ser tia-vó, e tentando acertar minha vida de uma vez, porque mais de 8 anos é tempo demais para estar enrolada, né? Já deu!
Eu volto. Só que desta vez, não faço mesmo ideia de quando!
Andrea

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domingo, 25 de novembro de 2018

Estamos vivendo a era da intolerância... até quando?


Temos assistido, há algum tempo, à explosão da intolerância. É algo que chega a ser assustador, para dizer o mínimo. As pessoas estão, a cada dia, mais e mais centradas naquilo que acreditam ser “bom”, “certo”, “positivo”, “normal” e fecham-se de maneira absurda a qualquer palavra ou atitude contrária, como se fossem detentores da verdade absoluta.

Vale para tudo. Qualquer frase, por mais inocente que seja, pode ser o gatilho para uma discussão acirrada, muitas vezes visivelmente cheia de ódio, deflagrada por alguém que pense diferente. E quando eu falo que vale para tudo, é tudo MESMO: desde uma “simples” discussão sobre futebol, passando por educação de crianças com ou sem castigo físico, adoção x compra de animais, alimentação vegana x onívora, roteiro de passeio ou viagem, adoção de crianças por gays... nada escapa! Se o assunto for política... aí virou terreno minado, alvo das maiores brigas, dos maiores rompimentos.

Sem contar, claro, os temas que envolvem preconceito, onde a polêmica toma conta sem precisar de nenhum esforço e expõem traços os mais deploráveis de determinadas pessoas: nordestinos, negros, pessoas com deficiência, diferentes religiões, orientação sexual. E esta última, então... é “nitroglicerina pura” como se diz!

A impressão que dá é que estamos saindo do “liberou geral” para o “tudo é proibido”, como se tudo fosse “oito ou oitenta”. Já escrevi sobre isso há algum tempo, mas a coisa vem piorando assustadoramente. E o problema maior é que se interfere nas liberdades fundamentais de cada um. Afinal, ao se considerar apenas UMA opção como correta, exclui-se todas as demais. CLARO que não estou falando aqui de crimes, mas para estes existem a polícia, a justiça para cuidar.

Após tanta liberdade, e especialmente após um período extenso de governo petista (o “culpado” de praticamente tudo de errado que as pessoas apontam), parece que as novas gerações resolveram “fechar as portas” de vez, em busca de um conservadorismo extremo, querendo até controlar o que os filhos fazem, veem, leem (como se isso fosse realmente possível em plena globalização e com a informação disponível à distância de “um clique”). Pior: como se quisessem colocar os filhos numa redoma, vendar-lhes os olhos, para que não tinham acesso a dados históricos incontestáveis. Chegou-se ao ponto de escolas retirarem a indicação de livros como “Meninos sem pátria” e “Diário de Anne Frank” de seus currículos, a pedido dos pais!

Percebe-se que por muito tempo se aceitou de tudo sem contestação. As crianças passaram a ser educadas à base do “não traumatiza”, tornando-se pequenos ditadores sem seguir regras ou respeitar quem quer que fosse. O sexo se tornou banal, a vulgaridade se tornou regra ao invés de exceção. O uso de drogas cresceu, explodiu, ainda que por outro lado tenha crescido também a preocupação com a alimentação saudável, o fumo e a bebida. Os valores mais básicos foram deturpados de tal forma que agora as pessoas desejam que o governo tome as rédeas e IMPONHA tais valores como obrigações. (até porquê o “culpado”, como eu disse, é o PT – e não, não sou petista, mas também não posso culpar um partido por deturpações que até o antecederam)

Só que as pessoas esquecem que os valores dependem de muitas variáveis. Não há uma verdade única e incontestável. Hoje temos inúmeros formatos de família (quer aceitem isso ou não, é fato), temos diversas religiões (inclusive ateus, o Estado é laico), temos crenças que advêm da vivência, da bagagem cultural de cada um (independente da formação ou falta dela). Então alguém determinar que algo é o “certo” é de uma prepotência absurda, pois só diz respeito à própria realidade.

Vejam o meu caso: minha estrutura familiar, apesar de uma base tradicional (papai, mamãe, filhinhas), perdeu isso há muitos anos, quando minha irmã engravidou da Samara e depois da Thabata, e não se casou ou sequer morou junto com o pai delas. Hoje, eu moro com as duas meninas, cada qual com uma criança (as mães não moram com os pais por motivos que não vêm ao caso). Ou seja, nada de “família comercial de margarina”, ao contrário! Ainda tenho base espírita (mas mais espiritualista, na verdade), sou vegetariana (não vegana), sou hetero, não fumo, não bebo... o que não impediu que Thabata se tornasse dependente química (e nem família “comercial de margarina” está livre disso, diga-se de passagem, antes que alguém fale que é este o motivo).

Então, se fosse me basear pelo que a sociedade estabelece, nem poderia dizer que tenho família! Seria rechaçada por não ser “católica, apostólica, romana”. Se fosse radical, perderia de conviver com amigos que se alimentam de carne e/ou que gostam de beber (será que vale a pena?). Se fosse preconceituosa, deixaria de conviver com amigos que são gays, perdendo momentos agradabilíssimos apenas por não concordar com a orientação sexual deles. Se olhasse apenas “o meu umbigo”, não teria cursado Pedagogia nem me especializado em Educação Inclusiva, pois não tinha nenhuma pessoa com deficiência na família.

O radicalismo e a intolerância vêm, em grande parte, de um se sentir melhor ou com mais direitos do que o outro, seja por que motivo for. Não há como pensar em outra explicação. Por que outro motivo um casal hétero pode andar livremente pelas ruas, demonstrar seu afeto, e um casal homoafetivo não? Por que outro motivo uma criança “dita normal” pode ser matriculada na escola que seus responsáveis desejarem e uma criança com deficiência tem a vaga negada? Por que outro motivo uma pessoa pode falar abertamente de sua crença no Cristo e a outra não pode falar de sua crença nos orixás? O simples fato de não coincidir com o meu pensamento não significa que eu possa, ou que eu tenha o direito de impedir o outro de fazer o que quer que seja.

Quem é melhor que quem? Quem pode afirmar isso com segurança, se todos somos falhos? Na minha opinião, é muita petulância qualquer um se sentir assim, para dizer o mínimo! Remete ao que assistimos no nazismo, onde a raça ariana se considerava pura, superior aos demais, e deu no que deu! (Mas chiiiiiiu... não pode mais falar disso!!!)

Existe, claro, a contrapartida. Ou seja, os excessos por conta do chamado “politicamente correto”. Há que se ter um cuidado imenso ao falar ou escrever qualquer coisa, porque tudo, absolutamente tudo, pode ser mal interpretado ou levado como ofensa a algum grupo de pessoas. Evoluiu-se muito na questão do que é correto ou não, mas existe uma questão cultural que não é possível ser alterada de uma hora para a outra. Muitas vezes a pessoa fala ou escreve sem sequer se dar conta de que aquilo pode ser tomado como algo negativo. Não por maldade, mas por mero costume mesmo. Por exemplo: é comum alguém comentar “bonita aquela moça negra”, mas ninguém diz “bonita aquela moça branca”. Por quê? Não necessariamente é por preconceito, apenas hábito. Por mais que a gente se policie, está sempre sujeito a cometer um erro. Somos humanos, não? Então, se alguém comete uma “falha”, por assim dizer, basta “dar um toque”, falar educadamente, às vezes até de forma privada. Mas as pessoas normalmente já “caem matando”, atacando, como se o outro tivesse cometido um crime! 

Há que se entender, também, que o fato de uma pessoa protestar contra uma postagem, comentário, notícia, que entenda depreciativo para algum grupo de pessoas não significa necessariamente vitimização ou, como gostam de falar hoje, “mimimi”. Há coisas que são sérias, graves, e que devem ser corrigidas, debatidas, para que mudemos conceitos e posturas arraigadas. Mas que isso seja feito de forma coerente, adulta, respeitosa, ou se perde a razão. Um exemplo recente: a Claudia Leitte foi desrespeitada por Silvio Santos durante o Teleton por causa da sua roupa. Ela tentou levar na brincadeira, mas cada vez que ele falava algo apenas piorava a situação, e não apenas direcionado a ela, mas ele generalizou a fala para todas as mulheres. Tem a ver com cultura isso? Tem, sem dúvida. Mas ele é um homem público, de uma visibilidade absurda, sem contar que estava em meio a um evento gigantesco de cunho social. Então, tem que ter MUITO cuidado no que diz. E essa não é a primeira “gafe” que ele comete. Houve um caso recente envolvendo a Maísa, que é funcionária do próprio SBT.

Só que o fato da Claudia Leitte reclamar da atitude dele, veio um monte de gente tentar minimizar o ocorrido por conta de uma fala dela durante o The Voice. Mas, por mais que ela tenha se excedido na ocasião, um erro não justifica o outro. Sabe aquela coisa que mãe adora dizer: “se fulano se jogar do barranco você vai se jogar também”? Pois é. Não é porque outros fazem que você possa fazer. Simples assim. Tem uma frase que gosto muito: “o certo é certo mesmo que ninguém o faça. O errado é errado mesmo que todos se enganem sobre ele. (C. K. Chesterton)” Ou, como diz uma de suas variantes, “o errado é errado mesmo que todo mundo esteja fazendo. O certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo.” No exemplo acima, basta substituir a Claudia Leitte por qualquer mulher que você conheça ou respeite. (Ah, mas não dá para comparar, ela não se vestiria daquele jeito. Não interessa. Homem anda por aí sem camisa, com a cueca aparecendo, e todo mundo acha normal.) Você acharia certo, gostaria de vê-la sendo tratada daquela forma? Duvido. Portanto, a atitude em si não está correta, não interessa a quem foi direcionada. Ponto.

Mas o mais grave (e mais assustador) é, sem dúvida, o discurso de ódio que estas pessoas trazem, querendo impor suas opiniões “a ferro e fogo”, não aceitando que outros sequer pensem de forma diferente ou que tenham se expressado mal. Pessoas que consideram a violência solução para tudo, que acham que “surra” é a solução para qualquer problema relativo à educação de crianças e adolescentes, que afirmam que têm que “metralhar toda a bandidagem”, que generalizam conceitos de forma absurdamente preconceituosa, que consideram quem tenha um pensamento ou postura diversa da sua como inimigo mortal. Eu, sinceramente, não consigo entender o motivo de tanta agressividade.

Eu pouco comento em posts, apenas daqueles que eu sei que têm coerência e que estão dispostos a uma troca saudável de ideias. Praticamente sequer posto sobre temas polêmicos porque não tenho paciência para essas discussões que se tornam inflamadas e desrespeitosas. Escrevo aqui no blog porque gosto de escrever, e é um espaço meu, onde os comentários podem ser moderados para que não haja excessos. 

Respeito é a palavra-chave. Ainda que eu não concorde com algo, não tenho o direito de impedir o outro, de invadir o seu espaço e a sua liberdade individual, de ter uma atitude que não gostaria que tivessem comigo ou com aqueles que amo. No máximo, posso controlar o que ocorre dentro da minha casa, mas eu não tenho como viver em uma “redoma de vidro”, então fora da minha casa cada um tem direito a ter suas crenças e valores respeitados, sim. “Ah mas eu não gosto disso”. Ok, direito seu. Não olhe, não faça, não compartilhe, apenas respeite. Pois se o outro gosta, é a vida dele, ninguém tem NADA a ver com isso. E, certamente, há atitudes, escolhas suas, que os outros também não gostam, mas têm que aceitar e respeitar.

Se as pessoas aprenderem a se respeitar e a conviver com a diversidade, todos viveremos muito melhor, com toda a certeza. Será que é tão difícil assim?

Eu volto.

Andréa

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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Empatia... tão em moda, tão em falta!



Hoje em dia vemos muito as pessoas falarem em “empatia”... a palavra virou meio que “lugar comum” nos discursos por aí. Mas será que as pessoas realmente sabem o que isso significa?
Empatia - em·pa·ti·a sf 1 Psicol Habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa. 2 Psicol Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem. 3 Qualquer ato de envolvimento emocional em relação a uma pessoa, a um grupo e a uma cultura. 4 Capacidade de interpretar padrões não verbais de comunicação. 5 Sentimento que objetos externos provocam em uma pessoa.
Pois é... pelo visto as pessoas não estão sabendo mesmo fazer uso dela, né? Porque, sinceramente, apesar de falarem à beça a respeito de empatia, o que menos se vê é isso aplicado na realidade!

Não estou nem falando apenas sobre as eleições não, ainda que tenha sido chocante o que assisti nestes meses. Eu, novamente, não declarei voto, não participei destas discussões, mas o que mais vi foi um discurso de ódio absurdo e, mais uma vez, polarizado entre petistas e não petistas. Como se o fato de não votar no candidato “x” automaticamente representasse uma declaração de voto no PT (ou vice-versa, igualmente), como se não houvessem outros candidatos. Mas o mais grave não é nem a defesa de um ou outro candidato, e sim o ataque feroz a quem não compartilha da mesma opinião. A agressividade das palavras, o desfazimento de amizades... e isso falando apenas de mundo virtual. No “mundo real” vi coisas bem piores acontecerem. Casos de ameaça, intimidação, agressão gratuita. Mas aí nem é só falta de empatia, mas também (e principalmente) intolerância e radicalismo, dos quais falarei em um próximo texto.

Só que a coisa se torna tão grotesca que o simples fato de não concordar com a postura política faz com que as pessoas desdenhem ou deixem de dar valor a artistas consagrados, como Chico Buarque, Caetano Veloso, que tanto contribuíram para nossa música com letras e canções belíssimas, de uma qualidade irrepreensível. E mais do que isso, minimizam o que eles passaram na época da ditadura militar (que alguns chegam a jurar que sequer aconteceu!), sendo perseguidos, expulsos do país, exilados, pelo simples fato de não concordar com o sistema vigente. Mas NADA é capaz de reduzir o valor incontestável de “Meu caro amigo”, “Alegria, alegria”, “Pra não dizer que não falei de flores”, entre muitas outras. Valor musical e histórico.

Falar que não tivemos ditadura, aliás, é querer passar uma borracha num passado vergonhoso de nosso país, taxando de criminosos todos aqueles que sofreram perseguições, torturas, durante aquele período. É fazer de conta que não tivemos “desaparecidos”, que não houve pais e mães torturados na presença de seus filhos, que não havia medo quanto ao que podia ser dito/falado/ouvido. É querer colocar uma venda nos olhos, como se assim aqueles anos pudessem, simplesmente, desaparecer da história! Pena que não é assim que as coisas funcionam...

O mais engraçado é ver as pessoas defenderem ou atacarem determinado candidato usando a corrupção como argumento, enquanto compram dvd’s piratas ou baixam música da internet, ou quando “molham a mão” do guarda para ele deixar passar uma infração de trânsito, ou quando param numa vaga para pessoas com deficiência (mas é só um minutinho)… o bom e velho “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”!

Sem contar as postagens cheias de preconceito vindas, justamente, daqueles que sofrem preconceito! É a mãe da criança com deficiência que ataca os homossexuais, o homossexual que ataca o candomblecista, ou seja, eu posso ter preconceito contra você, mas não tenha comigo!

Tanto se fala em empatia, mas se abrirmos qualquer notícia na internet e nos arriscarmos a ler os comentários, chega a dar enjoo! Notícias de desaparecimento de criança com comentários julgando os pais (a mãe, principalmente), como se estes merecessem tal sofrimento. Notícias de acidente com comentários afirmando (ainda que não se conheçam os envolvidos) uso de álcool ou drogas. Notícias de violência contra mulheres ou gays culpabilizando as vítimas. Se for uma notícia boa, sempre tem algum comentário menosprezando a conquista ou o acontecimento, como se fosse algo “fácil” ou de menor valor.

Se houver alguém famoso envolvido então... vixe! Piorou!!!! Se for de esquerda, é por causa da lei Rouanet, do PT... se além de tudo essa pessoa estiver doente, ou tiver sofrido acidente, e for hospitalizado, caem matando porque não foi atendido pelo SUS! Fazem comentários cheios de maldade, desejando o pior para a pessoa, como se esta merecesse o ocorrido apenas pelo fato de ser famoso e ter alguma opinião/postura/atitude que fuja do “padrão esperado” (ou que coincida com o da pessoa que comenta)!

Juro que em muitos casos fico com a impressão de que a falta de empatia anda de mãos dadas com a inveja, sabe? As pessoas, ao que parece, se doem porque o outro tem mais condições financeiras, seja porque motivo for. Porque se não for inveja, é pura maldade... não tem outra explicação! Afinal, eu DU-VI-DO que qualquer um em condições financeiras de ter um atendimento em hospital particular irá se submeter ao SUS, por exemplo!

Falta muito as pessoas se colocarem no lugar das outras... e perceberem que não são melhores que ninguém! O simples fato do outro pensar diferente não faz dele uma pessoa ruim, nem o torna seu inimigo. Ao contrário! Nem sempre existe apenas o certo e o errado, muitas vezes existem, mesmo, diversas visões corretas de um mesmo assunto. Então, conversar com quem pensa diferente pode mudar seu ponto de vista, ou ampliar seu olhar para enxergar a questão de outros ângulos (“puxa vida, nunca tinha pensado nisso...”), ou mesmo lhe fazer refletir sobre algo e, de repente, concluir que o outro tinha razão! E não é vergonha nenhuma perceber isso… ninguém é “dono da verdade”, ninguém sabe tudo de todos os assuntos, então uma conversa saudável (e não uma discussão inflamada) é enriquecedora!

Quantas vezes mudamos nossa visão apenas quando vivenciamos uma situação “in loco”? Claro, porque na teoria tudo pode ser lindo e maravilhoso, mas vai viver aquilo “na carne” para saber realmente como é! Existem vários exemplos: a pessoa que recebe um filho com deficiência precisa mudar sua visão a respeito de uma série de coisas, a pessoa que passa por um susto muito grande (como num acidente, uma situação de violência) também, quem se vê em meio a um desastre natural (como eu me vi quando passei pelas enchentes) idem, o recebimento de um prêmio ou uma herança inesperada, da mesma forma. São situações, negativas ou positivas, que nos fazem olhar o mundo de forma diferente, fazem enxergar coisas que antes sequer percebíamos. E isso não é necessariamente ruim, ao contrário.

Então, tentar se colocar no lugar do outro, sentir suas dores, vibrar suas conquistas, é um exercício diário, que todos devemos fazer. É fácil apontar a criança com deficiência com desdém, criticar (ou enaltecer) seus pais, sem no entanto sequer saber algo a respeito do que eles vivem diariamente. É fácil desmerecer uma promoção no serviço, quando não se sabe o quanto a pessoa batalhou por aquele degrau. É fácil ser contra a adoção por gays quando não se é uma criança há anos abandonada num abrigo, à espera de um pouco de afeto. É fácil criticar a pessoa que tem depressão, que de repente até tenta o suicídio, sem ao menos se importar de saber o que a levou a tamanho desespero.

Empatia… é hora de deixar de usar essa palavra de forma vazia e aplicá-la na prática. É hora de parar de enxergarmos o mundo apenas ao redor de nossos próprios umbigos e olharmos o outro de verdade, com respeito, com AMOR…

E no fim é a isso que se resume, não é? A falta de empatia, na verdade, nada mais é do que falta de AMOR nas relações. Precisamos mudar isso.

Eu volto.

Andréa


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sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Alguém por aí???


Faz teeeeeeeeeempo que não consigo passar por aqui... mas aconteceu tanta coisa nesse mais de ano e meio que acabei me afastando de tudo mesmo. Para quem não se lembra, eu voltei a morar em São Paulo após uma realocação no banco, devido à reestruturação ocorrida em final de 2016. Uma mudança imensa, geral, que virou nossas vidas de forma gigantesca. Mas eu tenho sentido uma necessidade muito grande de voltar a escrever, e quero tentar cuidar deste cantinho novamente.

Para começar, vou dar uma resumida nos acontecimentos deste período, para aqueles que não acompanharam as minhas poucas andanças em Facebook. A primeira coisa foi o impacto financeiro desta mudança, que foi algo bem difícil. A carga ficou violenta, ainda mais que eu vim na mesma função, com o mesmo salário, para uma cidade grande (imensa), onde o custo de vida é bem mais pesado que o interior. Então, a coisa “pegou” legal, a situação ficou bem feia (e ainda está, não vou mentir), e foi um dos principais motivos do meu silêncio esse tempo todo. Mesmo os reencontros que eu tanto ansiava ainda foram poucos nesse período. Afinal, desde a primeira enchente há quase 8 anos, que não consigo botar minha vida nos trilhos novamente... quando penso que a coisa vai serenar, vem outra paulada! Poxa, isso cansa!!! E, se cansa para mim, imagina para os amigos??? Não sou de desistir fácil, nem de me deixar abater, quem me conhece sabe disso, mas é dose pra leão, e lógico que dou umas baqueadas! Sou humana, afinal de contas! Todos os dias rezo para que aconteça um milagre e eu possa virar o jogo de uma vez por todas! Então, para não ser “a chata cheia de problemas” acabo me afastando, calando... 

Mas é claro que nem tudo é problema. O trabalho na agência Santana, aqui em São Paulo, foi bastante desafiador para mim. Eu, que havia trabalhado quase que 100% do tempo com pessoa física até então, de repente me vi em uma agência empresa! Tudo diferente, tudo novo, foi quase como um novo emprego! Apanhei um bocado, confesso, mas o aprendizado foi gratificante! Sem contar, óbvio, os amigos que conquistei nela!

Pouco depois de ter mudado, quando ainda estávamos nos adaptando, Samara procurando emprego para ajudar nas despesas, descobrimos que ela estava grávida! Uma bênção, claaaaaaaaaro, mas totalmente inesperada na nossa situação. Emprego ela não tinha mais como conseguir (quem contrata grávida?), e como a Thabata, com Gregório pequeno e ainda sem escola (e vaga em São Paulo não é coisa simples de arrumar, ainda estamos tentando), também estava sem trabalhar, isso contribuiu para complicar MUITO o lado financeiro. De uns tempos para cá a Samara começou a vender os produtos da Eudora, então vai dando uma ajudinha. Se alguém precisar, falando nisso... dá uma passada na página dela no Facebook!

De qualquer forma, apesar destes “perrengues”, não havia como não se encantar com cada ultrassom, cada mexidinha na barriga... nem como não se apaixonar por essa coisiquinha linda, que chegou ao mundo dia 16/12: a Ágatha! Hoje já está com 10 meses, e a cada dia mais fofa, sapeca e espertíssima! Há coisa de um mês aprendeu a engatinhar (antes se locomovia a “barrigada”) e logo decidiu que este aprendizado era obsoleto, então agora só quer é ficar de pé, o que causa alguns tombos, para desespero da mãe dela! É uma criança encantadora, que adora uma bagunça, que já tem quatro dentinhos na frente e um sorriso delicioso! (sim, continuo sendo uma tia-vó mega babona!)


Em meio a tanta coisa, continuei trabalhando e tentando crescer no banco. Eu vim no mesmo cargo, como disse, e precisava caminhar. Já fazia tempo que vinha tentando galgar mais um degrau, e agora precisava mais do que nunca conseguir! E de repente, quando menos esperava, uma vez que o banco vinha novamente mexendo na sua estrutura, fui chamada para atuar como supervisora de atendimento, responsável pela sala de autoatendimento (onde ficam os caixas eletrônicos) da agência Nossa Senhora do Sabará! YES! A única dificuldade, neste caso, é a distância, já que a nova agência fica na zona sul de São Paulo e eu moro na zona norte (próximo à agência para a qual vim trabalhar a princípio, óbvio). Mas nada que metrô e ônibus não resolvam! E, claro, assim que for possível, providencio a mudança para um local mais perto também. Essa promoção deu uma boa ajuda na parte financeira, ainda que não tenha sido ainda suficiente para resolver os problemas mais graves.

E o banco, mesmo com toda a reestruturação que vem sendo feita, já mostrou que tem interesse no desenvolvimento dos seus funcionários. Assim, ainda no ano passado lançou um game de nome DesEnvolVer, tendo como público-alvo as funções iniciais da carreira, para capacitar futuros líderes. Neste game éramos desafiados a tomar decisões em situações-problema, avançando passo a passo no autodesenvolvimento. Como forma de premiação, os 1000 primeiros colocados foram contemplados com bolsas de estudo para um MBA na FGV, chamado Liderança Inovadora. E sim, eu fui uma das contempladas, e estou iniciando meus estudos! Fácil não vai ser, FGV é uma faculdade que exige MUITO dos estudantes, mas sei que valerá a pena!

Ah, não falei ainda do Gregório? Pois é... esse molequinho safado já está com 2 anos e 5 meses, mais lindo, fofo e gostoso do que nunca, um tagarela de marca, safaaaaaaado… com tiradas engraçadíssimas, que continua amando música (e agora ainda canta que é uma delícia) e me encanta diariamente! (já falei que continuo sendo uma tia-vó mega babona?)


E esses primos se adoram! Quando estão juntos, a bagunça impera, e as risadas correm soltas! Uma delícia de se ver! A cama da Dedei então... é assim palco predileto para instalar a zorra!!!


Bom... acho que o resumo ficou “meio” grandinho... mas passou mais de ano e meio, né gente??? Eu dei uma atualizada geral na estrutura do blog. O projeto 52 deixou de ser produzido (fazer scrap só de problema não dá...), mas tem aí até o de 2016 disponível para vocês verem, a loja está parada, então o link saiu também (mas um dia eu retomo e aviso vocês)... em compensação tem dois fotolivros novos para vocês curtirem, do Gregório e da Ágatha!

Eu resolvi fazer o do Gregório quando ele ainda estava na barriga. Fiz na surdina, contemplando desde a notícia da gestação até o aniversário de 1 ano, aos pouquinhos, sem a Thabata saber. Só mostrei quando passou o aniversário dele mesmo! Então, quando soube da Ágatha... nada mais natural que iniciar um fotolivro para ela também, né? Mas desta vez a mãe sabe e liberou a exibição, então vocês podem ir acompanhando a criação dele. Ele está um pouquinho atrasado, em virtude da minha correria, então os scraps vão até os 8 meses por enquanto. Mas logo coloco em dia!

A parte de pensamentos (Para refletir...) ali embaixo também vou passar a atualizar com mais frequência ainda que, infelizmente, Trigueirinho tenha falecido há pouco mais de um mês. Mas Figueira continua enviando pensamentos (inclusive via Whatsapp, para quem quiser), e eu sempre que puder vou colocar ali para vocês.

Eu volto, prometo! Estou precisando disso, me faz um bem enorme escrever!

Andréa

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terça-feira, 21 de março de 2017

Pelo fim da "R-word"



Você já ouviu falar na "R-word"? É assim que um movimento mundial, cada vez maior, se refere à palavra "retardado/a", buscando eliminá-la de nosso dia-a-dia. "Ai, lá vem os politicamente corretos novamente!" "Ah, mas o mundo anda muito chato!" "Mas qual o problema, gente? As pessoas se ofendem por nada!" Será?

Primeiro de tudo, você já parou para refletir sobre o que se trata o "politicamente correto", antes de criticá-lo tão veementemente? Eu até concordo que tudo que é excessivo perde o sentido, mas o que se chama de "politicamente correto" é uma tentativa de respeitar a diversidade em todas as suas formas. Respeitar o outro, da mesma forma que queremos ser respeitados. Você gostaria de ser motivo de piada, muitas vezes em rede nacional, por causa de uma característica sua? Então por que os outros têm que aceitar "numa boa"? Mesmo que não falem diretamente de você, será que uma piada sobre "loura burra" não atinge em cheio as mulheres louras (e inteligentíssimas), fazendo com que se sintam diminuídas apenas pela cor de seus cabelos? Óbvio que tem pessoas que não ligam, que até participam da brincadeira, mas tenho certeza que muitas se incomodam e fingem que não, apenas para não bancar as "chatas certinhas".

Vale para tudo, o negro (e não a pessoa "de cor", "escurinha", ou outros termos ainda mais chulos que ouvimos por aí), o gay (e não "boiola"), a pessoa com excesso de peso (e não o "balofo"), a que é ou está muito magra (não "varapau"), a que usa óculos (não "quatro-olhos"), e por aí vai. Até porquê, muitas vezes o uso destes termos serve apenas para colocar a característica à frente da pessoa. Como questionei uma vez: porque falar "bonito aquele rapaz negro" ao invés de "bonito aquele rapaz"? Alguém fala "bonito aquele rapaz BRANCO"? 

No caso das pessoas com deficiência isso se torna ainda mais grave, porque estes rótulos são, muitas vezes, mais limitantes do que as próprias deficiências. A pessoa que usa cadeira de rodas pode, de modo geral, ser identificada como "cadeirante", mas nunca como "aleijada". A que tem deficiência visual é, em alguns casos, cega (mas não "ceguinha"), a que tem deficiência auditiva pode ser surda (e não "surda-muda", na maior parte dos casos), a pessoa com deficiência intelectual tem uma deficiência ou uma síndrome, como a síndrome de Down (mas em hipótese alguma é "retardada", "doentinha", "mongolóide"). Aliás, este último é um termo que se pode, ou melhor DEVE, abolir do linguajar, né?

O termo "mongolóide" foi usado por muito tempo para se referir às pessoas com síndrome de Down, porque faziam um paralelo entre a fisionomia destas pessoas e aquelas nascidas na Mongólia. Só que, enquanto a ciência avançava e mudava a nomenclatura e a forma de ver estas pessoas, o termo passou a ser usado de forma ofensiva, pejorativa, como sinônimo de incapacidade. Hoje, as pessoas com síndrome de Down não gostam de ser chamadas desta forma. Claro! Quem gosta de ser chamado de incapaz? Então, continuar a usar este termo, mesmo que se dirigindo a outra pessoa, é ofensivo para todas as pessoas com síndrome de Down! Será que entendendo isso, você continua achando que realmente as pessoas se ofendem por nada?

Voltando ao tema principal deste texto, a tal "R-word"... eu já vinha ensaiando um texto sobre ela, mas na correria diária vai passando, passando... até que há alguns dias eu li no Facebook de uma amiga o seguinte relato: "O preconceito nunca vai acabar. Esta semana Rita, na farmácia onde trabalha, foi atender uma senhora, e a mulher afastando-se dela, disse com grosseria: 'Não quero ser atendida por uma retardada, quero ser atendida por outra pessoa'".

A Rita, a que o relato se refere, é minha querida Rita Pokk. Moça inteligente, independente, atriz, casada há 13 anos com o Ariel Goldemberg e que, por acaso, tem síndrome de Down. (Quer conhecê-la? Assista ao programa da Eliana do último domingo!) Foi por esse "cromossomo a mais" que a cliente achou que tinha direito de usar a tal "R-word" e ofender a Rita! Claro que não posso concordar com isso, e a vontade de escrever sobre essa palavrinha voltou com tudo! O uso dela é ainda mais grave do que "mongolóide", porque afeta todas as pessoas com deficiência intelectual, e não somente aquelas com síndrome de Down. 

É preciso que se entenda que a pessoa que tem deficiência intelectual pode aprender de forma mais lenta, ou precisar que se explique mais vezes o mesmo tema, o que até se entende por retardo, mas isso nada tem a ver com incapacidade. Elas podem aprender, e aprendem de fato, se lhes for dada oportunidade para isso. Esse "retardo" é uma característica apenas da deficiência intelectual, e não a forma de identificá-la. Rotular uma pessoa com deficiência intelectual de "retardada" é minimizar toda a sua capacidade, é destruir todas as suas outras características, todas as suas qualidades, nivelando-a por baixo. E, pior: nivelando-a pela expectativa mais pessimista possível. A partir do momento em que se coloca um rótulo com este peso sobre uma pessoa, tira-se dela todas as possibilidades de vitória, de conquistar seu espaço. É justo isso?

"Ah, mas eu não uso para essas pessoas, mas para aquelas que fazem alguma coisa muito sem noção!" Ok, mas o simples fato de usá-la desta forma mostra que a considera ofensiva! É essa a finalidade básica da palavra, não se trata de um elogio a ninguém, concorda? Portanto, se você faz uso desta palavra, se considera que um intelecto um pouco mais lento do que o seu é motivo de ofensa, está, por tabela, ofendendo a todos aqueles que têm deficiência intelectual! Simples assim!

Percebe agora? Acha mesmo que "tudo bem" continuar usando essa palavra por aí?

Então vou lançar aqui um desafio: que tal aproveitar hoje, Dia Internacional da Síndrome de Down (dia 21/03, em alusão à trissomia do cromossomo 21) para homenagear a Rita e todas as pessoas com síndrome de Down ou outra deficiência intelectual, abolindo de uma vez por todas a tal "R-word" do vocabulário? Mesmo que vez ou outra você ainda "escorregue", vale a tentativa! Quanto mais se policiar, menos vezes falará! Quem topa?

Mais ainda: que tal ajudar a disseminar essa ideia? Compartilhe este texto, o site "Spread the world to end the word" ou, mesmo, o vídeo para que mais e mais pessoas tomem consciência e parem de utilizar essa palavra! Quando ouvir alguém dizê-la, procure explicar os motivos para a pessoa não usar mais. Posso contar com sua ajuda?

Aos meus queridos de olhos amendoados, todo meu amor no dia de hoje, esperando que esta comemoração ajude a tirá-los, cada vez mais, da invisibilidade, trazendo a todos respeito aos seus direitos de estudar, trabalhar, namorar, ter uma vida plena, autônoma e digna. 

Eu volto!

Andréa

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quarta-feira, 15 de março de 2017

Fim de ciclo


Há algum tempo comentei aqui sobre a reestruturação pela qual o banco está passando, e o que isso acarretou para mim. Perdi o cargo e, para garantir meu salário, precisava me realocar (ou ascender de função) o mais rápido possível. Isso tornou o início do ano beeeeeeeem tumultuado, tanto que tirei férias e não arredei pé daqui. Fiquei atenta às notícias, cheguei a ir à agência quando abriram possibilidade de ascensão, para poder concorrer desde o começo a todas as vagas possíveis, como comentei na última postagem do blog.

Mas, as férias acabaram, voltei ao trabalho, e apesar de meus esforços, fui vendo as vagas se acabando e eu na incerteza do que aconteceria. Batalhando, sempre! Desistir é palavra que não existe no meu dicionário, mas o emocional ficou muito balançado, por tudo que já comentei: essa incerteza toda, unida às dificuldades financeiras. Os scraps estão parados, não tenho mexido na loja... cadê cabeça? Gregório tem me ajudado muito a segurar tudo, de verdade. 

Só que sou filha de Ronaldo e Solange, né? Então, todo dia dava entrada no ponto e começava a olhar as vagas. Riscava as que tinham sido preenchidas, colocava meu nome nas que abriam, mandava email me apresentando, e torcia. Muito. Cheguei a ser chamada para uma entrevista, em Jundiaí, que seria perfeito... mas éramos nove "ex-"assistentes, todos com cargos perdidos na reestruturação, e apenas uma vaga. Não deu. E não havia mais vagas na região, para cargo nenhum que eu estava buscando. Restavam algumas - poucas, pouquíssimas - fora daqui. Continuei concorrendo.

E então, dia 08/03, dia da mulher, cheguei à agência e o gerente me perguntou: "e aí? Já está sabendo?" "Oi??? Sei de nada, nem dei entrada ainda!" "É que parece que você está nomeada em um lugar aí!"


Assim, sem aviso, sem contato algum, consegui minha realocação! Vou para a Agência Santana, em São Paulo! YES! Povo de Sampa, estou voltando!!! Dia 10/04 tomo posse na agência, ou seja, passarei meu aniversário em... Sampa!

Não vou mentir, eu vinha sentindo que era isso que ia acontecer. Faz 20 anos que saí de São Paulo rumo ao interior, em Serra Negra, e de repente o ciclo está se fechando e é hora de voltar. Por isso concorri às vagas que surgiram, e deixei o caminho aberto para o que tivesse que acontecer. Se fosse por aqui, ótimo. Se fosse em São Paulo, ótimo também.

Mas eu confesso que a ficha ainda está caindo, e a cabeça está a milhão. Providências demais a tomar, casa para alugar, casa para entregar (e tem que pintar, ajeitar antes), ai! O ideal é conseguir tomar posse na nova agência já morando em São Paulo, mas não há como ter certeza ainda, estamos em busca. A esperança é que, estando em São Paulo, as meninas consigam trabalho, eu consiga daqui um pouco subir de cargo, consiga lecionar também à noite... e com isso equilibraremos o lado financeiro de uma vez por todas. Chega! São seis anos de batalha em cima de batalha, já deu!!! Eu preciso, e acredito que mereço, um pouco de paz na minha cabeça, né???

O alugar tem outra complicação... caução ou fiador? Estou péssima de grana, como já comentei, a caução da casa em que estou servirá para colocá-la em ordem para poder entregar. Sei lá SE sobra algo, nem quanto. Mas certamente não cobre a nova caução. Fiador? Ô coisa chata de se pedir... e de se aceitar, né? Tem que confiar MUITO! (alguém aí se habilita???) Mas, vamos confiar, porque se os sinais apontam este caminho, ele há de estar aberto e todas as dificuldades cairão por terra.

A parte melhor de tudo, claro, é a proximidade de tantos amigos! A facilidade de encontrá-los, de participar de tudo aquilo para o qual me convidam e sempre acabo precisando recusar. Então, preparem-se... ESTOU VOLTANDO!!!

A todos de Itatiba, da cidade e do banco (que tem funcionários de Jundiaí também), que me receberam com tanto carinho, só tenho a agradecer! Minha casa estará sempre aberta para recebê-los, e Facebook está aí para ajudar a manter contato! Não irei esquecê-los jamais!!!

Só como curiosidade, dia 08/03 tem uma simbologia interessante para mim, no banco. Foi meu primeiro dia de trabalho em Amparo, ainda em 2010. Foi meu último dia de trabalho em Amparo, em 2013 (assumi em Itatiba dia 11/03). E foi o dia dessa nova nomeação. Coincidências???

Eu volto! 
(Logo, de verdade... tem postagem prontinha, mas eu precisava contar as novidades primeiro!)

Andréa

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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Por um ano com mais empatia, compaixão, AMOR!


Janeiro passou como um raio, e eu nem consegui dar uma chegadinha aqui... mas tirei 20 dias de férias, e aproveitei ao máximo um molequinho lindo, fofo e gostoso! :D Até surgiram ideias (não descartadas) para novos textos, só que acabei preferindo curtir bebê mesmo... :P E valeu, viu? O que ele desenvolveu este mês não foi brincadeira! Rompeu o primeiro dentinho, só quer saber de ficar em pé, adooooooooooooora música (e dança, e bate palma!), está comendo de tudo (e bicando do que estamos comendo também), uma delícia! Ainda assim consegui finalizar o Projeto 52 de 2016 e iniciar o de 2017! E ainda retomei o projeto Pedaços, tentando criar um novo scrap de frases ou trechos de música por semana. Tenho conseguido postar coisa nova todos os domingos, vamos ver se vai dar certo assim! Mas os álbuns já estão atualizados! Inclusive o menu superior já direciona ao Projeto 52 de 2017 e o de 2016 foi para o menu lateral.

Durante o período de férias, também, prestei novamente o seletivo aqui em Itatiba, para continuar lecionando (ao menos enquanto a situação no banco não se define) e fui aprovada em 10º lugar. Ou seja, DEVO conseguir! Já ajuda a dar uma aliviada no financeiro, porque a coisa está FEIA, como comentei no último post! E nesse período foi aberta finalmente a possibilidade de ascensão no banco, ao invés de apenas realocar na lateralidade, como estava sendo até então. Estive, então, na agência, e verifiquei as vagas abertas para poder concorrer. Afinal, se precisar mudar de cidade, melhor que seja galgando mais um degrau, né? Já estou com a "cabeça feita" de que dificilmente poderei permanecer em Itatiba, e que muito provavelmente terei que voltar para a capital. Não era minha intenção, nem é a minha solução preferida, mas também entendo que posso estar fechando um ciclo de 20 anos (fomos para Serra Negra em fevereiro de 1997). E, claro, tudo tem seu lado positivo, voltando para São Paulo estarei mais perto dos amigos, as meninas terão melhores oportunidades de emprego, enfim... Deus sabe como faz as coisas, e eu tenho muita Fé (Valeu seu Ronaldo! Valeu, dona Solange!) de que o melhor vai acontecer em nossas vidas! TEM que acontecer! ;) 

Para retomar a escrita aqui no blog, resolvi voltar a falar de um tema que já escrevi mas continua me incomodando MUITO... a falta de empatia que se vê por aí hoje. Quanto veneno, quanta mesquinharia, quanta crueldade, quanto ódio sendo destilado, em especial na internet. Hoje, com o falecimento de d. Marisa, esposa de Lula, mais uma vez se multiplicaram os comentários maldosos, tanto nas redes sociais quanto nas matérias de sites de notícias. No dia em que ela foi internada eu até comentei sobre isso no meu Facebook. No mesmo dia, aliás, houve um caso envolvendo a menina Sophia, que morreu vítima de bala perdida. Uma professora fez uma postagem classificando o ocorrido como "justiça divina" porque seu pai era policial. Esta mesma professora, aliás, já tinha se envolvido em polêmica anterior, ao comemorar a morte de um jovem de classe média/alta em um acidente de lancha. Recentemente, com o acidente envolvendo o time da Chapecoense, houve uma página no Facebook soltando posts (pseudo humorísticos) falando do medo de acidentes de avião, mostrando imagens deles dentro do avião antes e depois do acidente... para quê? Para ganhar uns "likes"? o.O 

Sabem? Eu fico pensando o que aconteceu com o sentimento das pessoas... como pode alguém, em sã consciência, VIBRAR, ficar FELIZ com um acidente, uma doença ou com a morte de alguém? Caramba! Estamos falando de seres humanos! Gente como nós, com qualidades e defeitos! SIM! Gente como NÓS. GENTE! 

Por pior que a pessoa seja/tenha sido, ou por mais que tenhamos algo contra um familiar seu, desejar o mal de alguém, ou comemorar o sofrimento de alguém é muito baixo! Independente do que a pessoa fez, se agirmos da mesma forma estamos então nos nivelando por baixo, estamos nos equiparando à pessoa que consideramos errada! Um erro justifica o outro? Além do quê, quem somos nós para determinar o que o outro merece? Sabemos qual foi o seu esforço em cumprir aquilo que lhe era destinado nesta encarnação? Será mesmo que nós estamos fazendo o nosso melhor? Somos perfeitos, por acaso? Julgar os outros é muito fácil... mas e os nossos próprios erros? Como podemos afirmar, de forma categórica, que jamais agiríamos como aquela pessoa, sem termos vivenciado a sua história?

É uma falta de empatia, de compaixão, de amor ao próximo, assustadora! Fruto da intolerância que anda imperando por aí, e que já foi tema de texto aqui no blog em algumas ocasiões. Não se aceita mais uma opinião contrária, não se aceita mais que se pense diferente, tudo é motivo de discussões, de "acabar a amizade". 

Não estou aqui dizendo que temos, necessariamente, que SOFRER com o que aconteceu ao outro, até porquê a gente sente por aqueles que nos são caros ou com pessoas/situações que nos tocam de alguma forma. Foi o caso do time da Chapecoense, foi o caso do Domingos Montagner (que, aliás, também foi alvo de intolerância). Dizer que estamos sofrendo por algo que não nos afeta de verdade é hipócrita. Mas, ao menos, que não sejamos cruéis com quem está sofrendo! Quem está vivenciando a situação merece, ao menos, respeito! A dor é real para aquela pessoa, para sua família. Dizer que alguém "merece" sofrer é ser maldoso ao extremo, talvez até pior do que o tal alguém! Que tenhamos a hombridade de, no mínimo, ficarmos calados! Sabe aquela história de "boca fechada não entra mosquito"? Ou "a palavra é prata, o silêncio é ouro"? Se não temos nada de bom para dizer, que não digamos nada! Não vamos continuar poluindo o planeta com mais energia negativa! 

E, se conseguirmos, que desejemos o bem. Que a pessoa não sofra, que lhe chegue a cura, que siga o caminho dela em paz, que receba Luz, que Deus ampare o coração dos familiares. Coisas simples, mas de uma energia boa poderosa! E boas energias fazem um bem danado ao astral coletivo! Sem contar que... sabem "Lei da Atração"? Pois é... quanto mais desejamos o bem mais atraímos o bem. E vale o mesmo para o mal. Afinal, o que será que desejamos atrair para nossas vidas? ;) 

O ano novo começou há um mês... vamos fazer dele um ano mais amoroso? Espalhar positividade, compaixão, solidariedade, AMOR? É muito mais fácil do que vocês imaginam!

Eu volto!

Andréa

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sábado, 31 de dezembro de 2016

Finalizando 2016



Estou bem em falta com vocês, eu sei... mas esse ano não foi nada fácil! Tiveram, claro, coisas muito boas acontecendo, como as aulas no EJA, os projetos de inclusão aqui em Itatiba e, acima de tudo, o nascimento do Gregório! Aliás, esse molequinho só nos dá alegrias! Completou 7 meses ontem, esbanjando lindeza, fofurice, sapequice por onde passa! Como resistir aos seus gritinhos e gargalhadas? Eu não consigo! Não mesmo!!!

Mas, apesar dessas coisas todas, foi um ano bem complicado. Financeiramente, então... nem se fala! Houve momentos mesmo de bater desespero, de achar que não ia dar certo, que ia "morrer na praia"! Aos "trancos e barrancos", chegamos ao fim do ano, com as coisas um pouco mais equalizadas. Um pouco, não totalmente, mas também com esperança de dias melhores. "A fé que me faz, otimista demais"... e vamos em frente! 

Não pensem que é fácil, pois não é. A reestruturação pela qual está passando o banco trouxe muita incerteza, para a minha vida e para de todos o que ali trabalham. Não falei muito do assunto, mas algumas pessoas perguntam, então vou explicar da melhor forma possível. O banco abriu um plano de aposentadoria incentivada e, ao mesmo tempo, um plano de reestruturação visando se tornar o mais digital possível. Assim, está reduzindo os cargos e, mesmo, fechando agências por todo o país. O meu cargo mesmo deixou de existir, o que me obriga a encontrar uma realocação o mais rápido possível. O problema é que, como eu, há muita gente para ser realocada, e poucas vagas disponíveis. Ou seja, ninguém sabe ao certo como isso vai ficar. O banco jura que vai realocar todo mundo, o mais próximo possível de onde está hoje, e tenho tentado confiar nisso, mas também já estou me preparando para uma eventual mudança, se for o caso. Acredito que o simples fato de estar aberta a isso já ajuda um bocado. Estou aguardando as sinalizações, que vão chegar com toda a certeza! 

Mas então imaginem... juntar finanças que já não estão bem das pernas, com essa insegurança toda... o emocional balança mesmo! Tenho buscado me manter centrada, manter acesa a Fé (tenha Fé, diria meu pai!), tenho me agarrado com força no espiritual, e assim vou seguindo em frente, da forma como é possível. 

E hoje 2016 chega ao fim, daqui a pouco já será 2017 e, como diz Drummond, "Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra adiante vai ser diferente". Que assim seja! E que 2017 traga muitas coisas boas para todo mundo! Vamos que vamos!!! 

Feliz Ano Novo! 

Eu volto... em 2017!

Andréa

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sábado, 15 de outubro de 2016

Dia dos Professores, dia de pensar sobre Educação



Há algum tempo venho ensaiando um novo texto sobre Educação. Hoje, Dia dos Professores, resolvi postar algumas ideias. Afinal, após passar alguns meses frente a uma sala de EJA, na verdade uma sala de um projeto voltado a alunos com imensas dificuldades, vejo reforçadas várias de minhas crenças, em especial a de que a Educação precisa ser reformulada por completo. E urgentemente! 

Os desafios que os professores enfrentam diariamente tem íntima ligação com esse nosso método tradicional e ultrapassado de ensinar. Ou, talvez melhor dizendo, de tentar transmitir conhecimento. Mas a cada dia que passa, mais sentido faz, para mim, o que diz José Pacheco: estamos em pleno século XXI, ensinando como no século XIX, e com fundamentos filosóficos do século XVII. Mas quanta coisa mudou neste período? Quanto avançamos? E por que a escola continua repetindo a mesma fórmula até hoje?

Num mundo globalizado, em constante movimento, com informações de todos os gêneros ao alcance de um “clique”, como temos hoje, com as crianças e jovens dominando as novas tecnologias com velocidade muito maior do que seus pais, como podemos querer alunos estáticos, sentados pacientemente, enquanto o professor todo-poderoso fica à frente da sala derramando seu conhecimento? Isso já não funcionava quando eu era garota, o que dirá agora, com crianças e jovens ainda mais conectados do que seus pais! Se antes tínhamos álbuns de figurinhas, jogos de "stop", e outras diversões para nos distrair, hoje existem os celulares! Mudou a tecnologia, mas a finalidade é a mesma: fugir da chatice de uma aula expositiva!

A Educação, como é hoje, não busca necessariamente que o aluno aprenda. Busca que o aluno "tire nota" e "passe de ano" até se formar. Os próprios professores se acostumam, muitas vezes, com este sistema, e consideram os alunos aptos ou não de acordo com as notas que tiram. Os pais, de modo geral, não perguntam aos filhos o que eles aprenderam, perguntam que nota eles tiraram! É uma inversão de valores, como se a nota determinasse realmente o quanto o aluno aprendeu! Ah tá! Então me respondam com sinceridade: quantos alunos tiram 10 “colando”? Quantos alunos tiram 0 por terem um “branco” na hora da prova? Quantos alunos no dia seguinte à prova já não lembram o que estudaram, porque só o fizeram para “tirar nota”? 

Já contei em texto anterior sobre a experiência que a escola de minha irmã fez ao perceber que ela ia “mal” em matemática, apesar de a professora achar que ela sabia a matéria. Aplicaram um exercício para a classe e corrigiram o dela para ver a nota que ela tiraria. Tiraria 9! No dia seguinte, o mesmo exercício foi dado com o nome de “prova”... ela tirou 3! Ela não sabia a matéria ou tinha pânico daquilo? O que a escola devia fazer? Aprovar porque ela sabia a matéria ou reprovar porque ela não tinha nota?

Já ouvi professores dizendo que, para ser aprovado, o importante é que o aluno atenda aos requisitos básicos da série seguinte, já que ninguém vai aprender tudo mesmo... por que não??? Óbvio! Não é culpa do professor nem do aluno, mas o sistema não permite isso! O sistema que temos determina um cronograma anual padrão para todos, com os conteúdos divididos em anos ou séries, e subdivididos por bimestres ou trimestres. O professor tem que passar todo o conteúdo previsto, quer os alunos aprendam, quer não. Consequentemente, alguns alunos aprendem mais, outros menos, não há como uniformizar. E este sistema vai permitir ao aluno avançar se conseguir atingir a média determinada pela escola, que pode ser 5, 6, 7... o critério também varia. 

Então, pais exigentes colocam seus filhos em escolas “fortes”, que empurram conteúdo atrás de conteúdo e exigem notas altas, preparando (esperam eles) os alunos para a competitividade do vestibular e do mercado de trabalho, e pouco importando se os alunos são massacrados, se estão estressados, desgastados, ou não tem tempo de serem crianças ou jovens. Estes pais, muitas vezes, ainda arrumam atividades extracurriculares para que os filhos se desenvolvam ainda mais, pensando no futuro e esquecendo do "hoje", e de forma bem comum, ainda castigam os filhos que vão “mal”. 

Enquanto isso, pais de “alunos problema”, após se estressarem com as tarefas e as notas que os filhos não atingem, com reclamações contínuas das escolas, buscam escolas “fracas”, que não exigem muito para passar de ano, e assim os filhos conseguem logo o diploma e eles se livram mais rápido deste tormento! Não importa o aprendizado que vai restar, afinal, o importante é aprender “pelo menos o básico”. 

Existem, ainda, aquelas escolas que tiveram a “progressão continuada” implementada (uma ideia interessante mas pessimamente aplicada), onde os alunos simplesmente passam de ano, sabendo ou não o conteúdo. Avançam sem saber praticamente nada, tornando-se analfabetos funcionais, sem condições de cursar uma faculdade e ingressar no mercado de trabalho “de igual para igual”. Aliás, são vítimas deste sistema que tenho em minha sala hoje. Alunos que estariam na 5ª, 6ª, até na 8ª série e que mal sabiam ler, escrever e somar! Como pode?

Está tudo errado!

E o “problema” começa lá na Educação Infantil, crescendo como “bola de neve” durante toda a sequência do Ensino Fundamental e Médio. Começa por partirem de um pressuposto absurdo que todas as crianças da mesma faixa etária estão em um mesmo ponto de aprendizado e maturidade. Oras! Se hoje é fato mais do que aceito que cada pessoa tem um ritmo e uma forma de aprender, como ainda pode ser aceito este pressuposto? Ainda mais em uma época em que a inclusão já é exigida por lei e deveria ser realidade de fato nas escolas (se nem com lei é, imagina sem lei?), como se pode nivelar os alunos? Como é possível querer padronizar o ensino? Como é possível querer que todos os alunos da mesma série atinjam os mesmos objetivos? Como é possível querer que todos aprendam da mesma forma, se sabemos, através de Gardner, da existência das inteligências múltiplas? Não se consegue! Não tem como! Ainda assim, virou “moda” falar na tal padronização do ensino e se exaltar as qualidades das benditas apostilas! 

Pensem bem: se hoje é fala recorrente que não devemos sequer comparar o desenvolvimento de BEBÊS, o que dirá de crianças e jovens! Um bebê rola antes, outro balbucia antes, outro pega coisas antes. Um bebê anda cedo, o outro fala cedo. Há, ainda, aquele que faz tudo tarde, seja por uma deficiência, seja por característica própria, ou mesmo por falta de estímulos adequados. Estes bebês, ao crescerem um pouco, ingressarão em creches ou escolinhas e, se tiverem a mesma idade, serão tratados da mesma forma, farão as mesmas atividades. Há escolinhas que já têm apostilas desde o maternal, que têm PROVAS na Educação Infantil! Mas aquele que andou cedo talvez precise ser mais estimulado na fala, na expressão oral. O que falou cedo talvez precise de mais estímulos na parte motora. O que fez tudo mais tarde talvez precise de um trabalho diferenciado, mais próximo, estimulando todas as áreas. Mas tentarão, exaustivamente, que eles sejam igualados, nivelados, para que possam, juntos, chegar ao Ensino Fundamental. 

Juntos? Será? Qualquer professor de 1º ano pode dizer se seus alunos chegam no mesmo ponto. Claro que não! São crianças diferentes, com histórias diferentes, com estímulos diferentes, com características diferentes. Dentre os alunos que ingressam no 1º ano, há desde aqueles que já chegam alfabetizados, àqueles que jamais viram uma letra na vida! Como podem ser tratados da mesma forma? Alguns, ou todos, sairão prejudicados! Ou irão frear aquele que está mais à frente, ou irão acelerar quem está mais atrás (e em determinado momento, deixarão de prestar atenção a ele, porque o que vale mesmo é o “bom aluno”), ou farão um pouco de cada. O ritmo individual de cada um não será respeitado, novamente. Buscarão, mais uma vez, o nivelamento, que se segue vida escolar afora.

Mas, como esse nivelamento é fictício, passamos a aceitar que "nenhum aluno vai aprender tudo mesmo", a perceber que temos alunos muito bons em português mas péssimos em matemática (ou vice-versa, ou qualquer outra disciplina), a rotular aqueles que não estão caminhando da forma esperada como “alunos-problema”, e a encaminhá-los para alguma terapia (o problema é dele, não da escola, afinal). E a consequência, muitas vezes, é a perda do interesse do aluno no aprendizado. O que estava mais à frente e tem de ser freado, perde o interesse porque aquilo para ele é muito fácil. O que estava mais atrás, perde o interesse porque não dá conta. No ensino público, então, temos ainda um agravante. Os tais “alunos-problema” chegam em determinado ponto e são “convidados” a ingressar no EJA (mais rápido, mais fácil, menos conteúdo e não sou eu mesmo quem vou ter que cuidar, graças a Deus!), que muitas vezes vira “depósito” destes alunos, e ainda, no caso do curso noturno, larga um monte de jovens ociosos nas ruas durante todo o dia.

Ah, mas é claro que existem exceções. Alunos que se enquadram bem neste esquema, que gostam (ou aprendem a gostar) desta forma de estudo, e que até aprendem de fato. Estes espécimes raros, os tais “CDF’s” ou “nerds”, tiram sempre boas notas em todas as disciplinas, tornam-se orgulho de suas famílias, acabam disputados pelas escolas, que fazem os tais “vestibulinhos” para poder selecionar só aqueles alunos que interessam (leia-se: bons alunos, que não dão trabalho, que vão passar em bons vestibulares e “fazer o nome” da escola). 

Aliás, que coisa mais grotesca os tais vestibulinhos! São massacrantes para as crianças, derrubam a autoestima daqueles que não são aprovados, e são, ainda, tremendamente excludentes (óbvio). Se eu já acho que a faculdade deveria ser direito de todo aluno que finaliza o Ensino Médio, sem precisar passar por seleção alguma depois (se tem o diploma do Ensino Médio, afinal, é porque já passou por todas as avaliações necessárias), que dirá para ingressar na escola, que é direito de TODOS, segundo a Constituição Federal! 

Ensina-se, desde o princípio, que a criança deve ser competitiva, deve brigar por seu lugar, e que tem sempre que ser melhor que os outros, derrotar os que são “menos”, pois quem não “vence” não tem valor. E as escolas favorecem ainda mais essa competição, mesmo que não façam uso dos vestibulinhos, mas deixam de lado o aluno com dificuldade (tenha ou não deficiência) ou supervalorizam os “bons” alunos, expondo aqueles que se “destacaram” em determinado período. Como acham que é para um aluno que tenha dificuldade de aprendizado ver os colegas sendo aplaudidos, cumprimentados, valorizados, enquanto ele luta tanto para tentar atingir os objetivos propostos? E para os tais “destaques” e seus pais? Não é uma superinflada de ego?

Ok então... mas qual seria a saída? A saída é a reformulação total do ensino. A abolição das séries, das apostilas, das padronizações. A implementação da Educação para a autonomia, que respeita o ritmo do aluno e permite que todos aprendam tudo, cada qual no seu tempo e do seu jeito, que ensina a solidariedade, quando um ajuda o outro e fica feliz com a conquista alheia, que valoriza o diálogo e análise crítica dos fatos, ao colocar os alunos para estabelecer regras e solucionar eventuais conflitos. Temos vários e vários exemplos em todo o mundo, e mesmo aqui no Brasil, de escolas agindo de outra forma e conseguindo excelentes resultados. Aliás, já há até faculdades buscando essa visão de ensino.

Na Educação para a autonomia o aluno é ensinado, desde pequeno, a ir em busca do conhecimento, não há nada pronto, “de bandeja”. Os menores, além de terem todo o lúdico disponível (afinal, criança tem que brincar, em primeiro lugar), são também ensinados a agir com autonomia. Da mesma forma, os alunos que ingressam em escolas com este formato têm que ter um período de adaptação, faz parte. Essas escolas têm espaços amplos, salas de estudo sem separação por “nível”, “série” ou coisa que o valha, ao invés das salas de aula tradicionais. Têm pátios, jardins, que também se transformam em locais de estudo. Os professores, todos, estão sempre à disposição de todos os alunos, prontos a auxiliar quem tem dúvida ou está com dificuldade para entender algo.

A cada período (semanal, quinzenal, ou qualquer outro, a critério da escola) o aluno, em conjunto com seu orientador, determina um plano de estudo com os conteúdos que ele deverá aprender no período subsequente. Ele então deverá pesquisar (na biblioteca da escola, em tantos livros quantos forem necessários, ou mesmo na internet), comparar as informações das diversas fontes, buscar entender, de fato, aquilo que lhe foi proposto para que possa, quando se sentir seguro, ser avaliado. 

Se surgir alguma dificuldade, os colegas podem auxiliá-lo, ou ele pode pedir a um professor (que não necessariamente é o seu orientador, mas um que tenha domínio do conteúdo) que o socorra. Ele pode estudar na sala ou em qualquer outro espaço da escola que lhe agradar mais. 

Quando acredita já ter aprendido o conteúdo proposto, PEDE e é avaliado da forma que for mais interessante naquele momento. Isso inclui ter que explicar o tema, ou escrever a respeito, dar exemplos, desenvolver um projeto, debater o assunto com o professor, não necessariamente realizar exercícios de repetição. Deve-se mostrar APRENDIZADO, e não mera “decoreba” ou “mecânica”. Ao final da avaliação, o professor responsável verificará se o objetivo foi mesmo atingido, e o aluno poderá seguir adiante, ou se tem algo ainda a ser reforçado, e o aluno é orientado a rever aqueles pontos antes de prosseguir. Não há sentido, a partir do momento em que se espera que os alunos aprendam TUDO, em avançar quando ainda há pontos obscuros, afinal. E isso ocorre sem problemas, sem que o aluno seja “menos” que ninguém, sem o peso de uma “nota baixa”. É dada orientação, para que o aprendizado seja consistente e persistente. 

Se, em determinado período, algum conteúdo proposto não foi estudado, não há problema, é só retomá-lo no período seguinte! Afinal, quem nunca abraçou mais do que conseguia fazer ou não deu conta do recado por algum problema pessoal? Acontece! Há tempo para se aprender. Não havendo a separação por séries nem bimestres, o aluno tem todos os anos da Educação Básica para aprender todo o conteúdo. Sem estresse, sem cobranças, sem massacre. 

Cada aluno tem seu plano de estudo individual, e avança de acordo com seu ritmo, com sua condição, podendo, até mesmo, ir mais rápido em uma do que em outra disciplina. Qual o problema disso? O importante será que ele, ao final da Educação Básica, antes de receber um diploma ou certificado de conclusão, tenha estudado todo o conteúdo determinado. E se ele terminar os conteúdos antes do tempo determinado pelo MEC? É possível, não? Não há problema! Ele pode aprofundar os temas que mais lhe agradarem, ou pode se dedicar a algum tipo de pesquisa, ou mesmo aprender algo novo, que não estava previsto inicialmente. Simples!

Os conflitos, quando acontecem, são tratados pelos próprios alunos, sob supervisão dos professores, caso seja necessário. Aliás, é comum nestas escolas as regras e eventuais punições serem estabelecidas pelos próprios alunos, através de debates, votações, de forma democrática. 

Nestas escolas, além da forma de ensino completamente diferente, além das avaliações formativas, além de se estimular a pesquisa, e até a liberdade dos alunos estudarem onde preferirem, também são comumente em período integral, permitindo que os alunos aprendam artes, esportes, música, e evitando a existência das “temidas” lições de casa, pois existe tempo de sobra para o estudo na escola. 

Não é que os pais serão menos participativos, se lhes for tirada essa “função”, ao contrário. Mas existem outras formas de se atuar junto à escola, sem precisar do estresse das lições de casa, ou dos estudos às vésperas das provas! Em diversas escolas, por exemplo, os pais são convidados a fazerem oficinas para ensinar algo aos alunos. E aí não importa o grau de conhecimento de cada um, todos têm valor. Um engenheiro pode montar um laboratório de óptica, por exemplo, enquanto um marceneiro pode ensinar a criar móveis! Todo conhecimento é bem-vindo.

Os alunos passam a QUERER aprender, pois são desafiados a cada momento. Eles têm a responsabilidade de cumprir seus planos de estudo, não vai “cair do céu” nem vai ter de quem “colar” para conseguir uma boa nota (até porquê nem existe nota!). E, muitas vezes, a curiosidade sendo instigada, acabam indo além do que lhes foi proposto, querendo saber mais. 

É fácil chegar a esse ponto? Claro que não. Toda mudança requer planejamento, vontade, e até coragem para ser concretizada! Não existe mágica, não há como apontar uma varinha de condão e pronto! Tudo mudado! Não é assim... leva tempo, mas é preciso QUERER mudar e dar o primeiro passo! 

As mudanças necessárias para uma Educação para a autonomia requerem muito diálogo, pois esta é uma proposta radicalmente diferente do que existe hoje. Os alunos estranham, a princípio, tanta liberdade de ação. Os pais se sentem perdidos, ao não poderem cobrar notas dos filhos. Os professores custam um pouco a perceber sua mudança de função, de transmissor para orientador. Mas é possível. Temos vários exemplos disso, dando certo mesmo com alunos considerados “difíceis”, recusados em outras escolas. 

E, quanto mais eu vejo a situação das escolas hoje, quanto mais ouço e leio relatos de professores, e quanto mais eu vejo estes exemplos, mais eu creio na necessidade de mudança. É tão mais lógico, é tão mais inclusivo, é tão mais tranquilo aprender desta forma... Não sei se chegarei a ver acontecer, mas gostaria muito disso, de verdade!

A todos os professores, um feliz dia! 

Eu volto!

Andréa

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