quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Empatia... tão em moda, tão em falta!



Hoje em dia vemos muito as pessoas falarem em “empatia”... a palavra virou meio que “lugar comum” nos discursos por aí. Mas será que as pessoas realmente sabem o que isso significa?
Empatia - em·pa·ti·a sf 1 Psicol Habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa. 2 Psicol Compreensão dos sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem. 3 Qualquer ato de envolvimento emocional em relação a uma pessoa, a um grupo e a uma cultura. 4 Capacidade de interpretar padrões não verbais de comunicação. 5 Sentimento que objetos externos provocam em uma pessoa.
Pois é... pelo visto as pessoas não estão sabendo mesmo fazer uso dela, né? Porque, sinceramente, apesar de falarem à beça a respeito de empatia, o que menos se vê é isso aplicado na realidade!

Não estou nem falando apenas sobre as eleições não, ainda que tenha sido chocante o que assisti nestes meses. Eu, novamente, não declarei voto, não participei destas discussões, mas o que mais vi foi um discurso de ódio absurdo e, mais uma vez, polarizado entre petistas e não petistas. Como se o fato de não votar no candidato “x” automaticamente representasse uma declaração de voto no PT (ou vice-versa, igualmente), como se não houvessem outros candidatos. Mas o mais grave não é nem a defesa de um ou outro candidato, e sim o ataque feroz a quem não compartilha da mesma opinião. A agressividade das palavras, o desfazimento de amizades... e isso falando apenas de mundo virtual. No “mundo real” vi coisas bem piores acontecerem. Casos de ameaça, intimidação, agressão gratuita. Mas aí nem é só falta de empatia, mas também (e principalmente) intolerância e radicalismo, dos quais falarei em um próximo texto.

Só que a coisa se torna tão grotesca que o simples fato de não concordar com a postura política faz com que as pessoas desdenhem ou deixem de dar valor a artistas consagrados, como Chico Buarque, Caetano Veloso, que tanto contribuíram para nossa música com letras e canções belíssimas, de uma qualidade irrepreensível. E mais do que isso, minimizam o que eles passaram na época da ditadura militar (que alguns chegam a jurar que sequer aconteceu!), sendo perseguidos, expulsos do país, exilados, pelo simples fato de não concordar com o sistema vigente. Mas NADA é capaz de reduzir o valor incontestável de “Meu caro amigo”, “Alegria, alegria”, “Pra não dizer que não falei de flores”, entre muitas outras. Valor musical e histórico.

Falar que não tivemos ditadura, aliás, é querer passar uma borracha num passado vergonhoso de nosso país, taxando de criminosos todos aqueles que sofreram perseguições, torturas, durante aquele período. É fazer de conta que não tivemos “desaparecidos”, que não houve pais e mães torturados na presença de seus filhos, que não havia medo quanto ao que podia ser dito/falado/ouvido. É querer colocar uma venda nos olhos, como se assim aqueles anos pudessem, simplesmente, desaparecer da história! Pena que não é assim que as coisas funcionam...

O mais engraçado é ver as pessoas defenderem ou atacarem determinado candidato usando a corrupção como argumento, enquanto compram dvd’s piratas ou baixam música da internet, ou quando “molham a mão” do guarda para ele deixar passar uma infração de trânsito, ou quando param numa vaga para pessoas com deficiência (mas é só um minutinho)… o bom e velho “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”!

Sem contar as postagens cheias de preconceito vindas, justamente, daqueles que sofrem preconceito! É a mãe da criança com deficiência que ataca os homossexuais, o homossexual que ataca o candomblecista, ou seja, eu posso ter preconceito contra você, mas não tenha comigo!

Tanto se fala em empatia, mas se abrirmos qualquer notícia na internet e nos arriscarmos a ler os comentários, chega a dar enjoo! Notícias de desaparecimento de criança com comentários julgando os pais (a mãe, principalmente), como se estes merecessem tal sofrimento. Notícias de acidente com comentários afirmando (ainda que não se conheçam os envolvidos) uso de álcool ou drogas. Notícias de violência contra mulheres ou gays culpabilizando as vítimas. Se for uma notícia boa, sempre tem algum comentário menosprezando a conquista ou o acontecimento, como se fosse algo “fácil” ou de menor valor.

Se houver alguém famoso envolvido então... vixe! Piorou!!!! Se for de esquerda, é por causa da lei Rouanet, do PT... se além de tudo essa pessoa estiver doente, ou tiver sofrido acidente, e for hospitalizado, caem matando porque não foi atendido pelo SUS! Fazem comentários cheios de maldade, desejando o pior para a pessoa, como se esta merecesse o ocorrido apenas pelo fato de ser famoso e ter alguma opinião/postura/atitude que fuja do “padrão esperado” (ou que coincida com o da pessoa que comenta)!

Juro que em muitos casos fico com a impressão de que a falta de empatia anda de mãos dadas com a inveja, sabe? As pessoas, ao que parece, se doem porque o outro tem mais condições financeiras, seja porque motivo for. Porque se não for inveja, é pura maldade... não tem outra explicação! Afinal, eu DU-VI-DO que qualquer um em condições financeiras de ter um atendimento em hospital particular irá se submeter ao SUS, por exemplo!

Falta muito as pessoas se colocarem no lugar das outras... e perceberem que não são melhores que ninguém! O simples fato do outro pensar diferente não faz dele uma pessoa ruim, nem o torna seu inimigo. Ao contrário! Nem sempre existe apenas o certo e o errado, muitas vezes existem, mesmo, diversas visões corretas de um mesmo assunto. Então, conversar com quem pensa diferente pode mudar seu ponto de vista, ou ampliar seu olhar para enxergar a questão de outros ângulos (“puxa vida, nunca tinha pensado nisso...”), ou mesmo lhe fazer refletir sobre algo e, de repente, concluir que o outro tinha razão! E não é vergonha nenhuma perceber isso… ninguém é “dono da verdade”, ninguém sabe tudo de todos os assuntos, então uma conversa saudável (e não uma discussão inflamada) é enriquecedora!

Quantas vezes mudamos nossa visão apenas quando vivenciamos uma situação “in loco”? Claro, porque na teoria tudo pode ser lindo e maravilhoso, mas vai viver aquilo “na carne” para saber realmente como é! Existem vários exemplos: a pessoa que recebe um filho com deficiência precisa mudar sua visão a respeito de uma série de coisas, a pessoa que passa por um susto muito grande (como num acidente, uma situação de violência) também, quem se vê em meio a um desastre natural (como eu me vi quando passei pelas enchentes) idem, o recebimento de um prêmio ou uma herança inesperada, da mesma forma. São situações, negativas ou positivas, que nos fazem olhar o mundo de forma diferente, fazem enxergar coisas que antes sequer percebíamos. E isso não é necessariamente ruim, ao contrário.

Então, tentar se colocar no lugar do outro, sentir suas dores, vibrar suas conquistas, é um exercício diário, que todos devemos fazer. É fácil apontar a criança com deficiência com desdém, criticar (ou enaltecer) seus pais, sem no entanto sequer saber algo a respeito do que eles vivem diariamente. É fácil desmerecer uma promoção no serviço, quando não se sabe o quanto a pessoa batalhou por aquele degrau. É fácil ser contra a adoção por gays quando não se é uma criança há anos abandonada num abrigo, à espera de um pouco de afeto. É fácil criticar a pessoa que tem depressão, que de repente até tenta o suicídio, sem ao menos se importar de saber o que a levou a tamanho desespero.

Empatia… é hora de deixar de usar essa palavra de forma vazia e aplicá-la na prática. É hora de parar de enxergarmos o mundo apenas ao redor de nossos próprios umbigos e olharmos o outro de verdade, com respeito, com AMOR…

E no fim é a isso que se resume, não é? A falta de empatia, na verdade, nada mais é do que falta de AMOR nas relações. Precisamos mudar isso.

Eu volto.

Andréa


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