domingo, 25 de novembro de 2018

Estamos vivendo a era da intolerância... até quando?


Temos assistido, há algum tempo, à explosão da intolerância. É algo que chega a ser assustador, para dizer o mínimo. As pessoas estão, a cada dia, mais e mais centradas naquilo que acreditam ser “bom”, “certo”, “positivo”, “normal” e fecham-se de maneira absurda a qualquer palavra ou atitude contrária, como se fossem detentores da verdade absoluta.

Vale para tudo. Qualquer frase, por mais inocente que seja, pode ser o gatilho para uma discussão acirrada, muitas vezes visivelmente cheia de ódio, deflagrada por alguém que pense diferente. E quando eu falo que vale para tudo, é tudo MESMO: desde uma “simples” discussão sobre futebol, passando por educação de crianças com ou sem castigo físico, adoção x compra de animais, alimentação vegana x onívora, roteiro de passeio ou viagem, adoção de crianças por gays... nada escapa! Se o assunto for política... aí virou terreno minado, alvo das maiores brigas, dos maiores rompimentos.

Sem contar, claro, os temas que envolvem preconceito, onde a polêmica toma conta sem precisar de nenhum esforço e expõem traços os mais deploráveis de determinadas pessoas: nordestinos, negros, pessoas com deficiência, diferentes religiões, orientação sexual. E esta última, então... é “nitroglicerina pura” como se diz!

A impressão que dá é que estamos saindo do “liberou geral” para o “tudo é proibido”, como se tudo fosse “oito ou oitenta”. Já escrevi sobre isso há algum tempo, mas a coisa vem piorando assustadoramente. E o problema maior é que se interfere nas liberdades fundamentais de cada um. Afinal, ao se considerar apenas UMA opção como correta, exclui-se todas as demais. CLARO que não estou falando aqui de crimes, mas para estes existem a polícia, a justiça para cuidar.

Após tanta liberdade, e especialmente após um período extenso de governo petista (o “culpado” de praticamente tudo de errado que as pessoas apontam), parece que as novas gerações resolveram “fechar as portas” de vez, em busca de um conservadorismo extremo, querendo até controlar o que os filhos fazem, veem, leem (como se isso fosse realmente possível em plena globalização e com a informação disponível à distância de “um clique”). Pior: como se quisessem colocar os filhos numa redoma, vendar-lhes os olhos, para que não tinham acesso a dados históricos incontestáveis. Chegou-se ao ponto de escolas retirarem a indicação de livros como “Meninos sem pátria” e “Diário de Anne Frank” de seus currículos, a pedido dos pais!

Percebe-se que por muito tempo se aceitou de tudo sem contestação. As crianças passaram a ser educadas à base do “não traumatiza”, tornando-se pequenos ditadores sem seguir regras ou respeitar quem quer que fosse. O sexo se tornou banal, a vulgaridade se tornou regra ao invés de exceção. O uso de drogas cresceu, explodiu, ainda que por outro lado tenha crescido também a preocupação com a alimentação saudável, o fumo e a bebida. Os valores mais básicos foram deturpados de tal forma que agora as pessoas desejam que o governo tome as rédeas e IMPONHA tais valores como obrigações. (até porquê o “culpado”, como eu disse, é o PT – e não, não sou petista, mas também não posso culpar um partido por deturpações que até o antecederam)

Só que as pessoas esquecem que os valores dependem de muitas variáveis. Não há uma verdade única e incontestável. Hoje temos inúmeros formatos de família (quer aceitem isso ou não, é fato), temos diversas religiões (inclusive ateus, o Estado é laico), temos crenças que advêm da vivência, da bagagem cultural de cada um (independente da formação ou falta dela). Então alguém determinar que algo é o “certo” é de uma prepotência absurda, pois só diz respeito à própria realidade.

Vejam o meu caso: minha estrutura familiar, apesar de uma base tradicional (papai, mamãe, filhinhas), perdeu isso há muitos anos, quando minha irmã engravidou da Samara e depois da Thabata, e não se casou ou sequer morou junto com o pai delas. Hoje, eu moro com as duas meninas, cada qual com uma criança (as mães não moram com os pais por motivos que não vêm ao caso). Ou seja, nada de “família comercial de margarina”, ao contrário! Ainda tenho base espírita (mas mais espiritualista, na verdade), sou vegetariana (não vegana), sou hetero, não fumo, não bebo... o que não impediu que Thabata se tornasse dependente química (e nem família “comercial de margarina” está livre disso, diga-se de passagem, antes que alguém fale que é este o motivo).

Então, se fosse me basear pelo que a sociedade estabelece, nem poderia dizer que tenho família! Seria rechaçada por não ser “católica, apostólica, romana”. Se fosse radical, perderia de conviver com amigos que se alimentam de carne e/ou que gostam de beber (será que vale a pena?). Se fosse preconceituosa, deixaria de conviver com amigos que são gays, perdendo momentos agradabilíssimos apenas por não concordar com a orientação sexual deles. Se olhasse apenas “o meu umbigo”, não teria cursado Pedagogia nem me especializado em Educação Inclusiva, pois não tinha nenhuma pessoa com deficiência na família.

O radicalismo e a intolerância vêm, em grande parte, de um se sentir melhor ou com mais direitos do que o outro, seja por que motivo for. Não há como pensar em outra explicação. Por que outro motivo um casal hétero pode andar livremente pelas ruas, demonstrar seu afeto, e um casal homoafetivo não? Por que outro motivo uma criança “dita normal” pode ser matriculada na escola que seus responsáveis desejarem e uma criança com deficiência tem a vaga negada? Por que outro motivo uma pessoa pode falar abertamente de sua crença no Cristo e a outra não pode falar de sua crença nos orixás? O simples fato de não coincidir com o meu pensamento não significa que eu possa, ou que eu tenha o direito de impedir o outro de fazer o que quer que seja.

Quem é melhor que quem? Quem pode afirmar isso com segurança, se todos somos falhos? Na minha opinião, é muita petulância qualquer um se sentir assim, para dizer o mínimo! Remete ao que assistimos no nazismo, onde a raça ariana se considerava pura, superior aos demais, e deu no que deu! (Mas chiiiiiiu... não pode mais falar disso!!!)

Existe, claro, a contrapartida. Ou seja, os excessos por conta do chamado “politicamente correto”. Há que se ter um cuidado imenso ao falar ou escrever qualquer coisa, porque tudo, absolutamente tudo, pode ser mal interpretado ou levado como ofensa a algum grupo de pessoas. Evoluiu-se muito na questão do que é correto ou não, mas existe uma questão cultural que não é possível ser alterada de uma hora para a outra. Muitas vezes a pessoa fala ou escreve sem sequer se dar conta de que aquilo pode ser tomado como algo negativo. Não por maldade, mas por mero costume mesmo. Por exemplo: é comum alguém comentar “bonita aquela moça negra”, mas ninguém diz “bonita aquela moça branca”. Por quê? Não necessariamente é por preconceito, apenas hábito. Por mais que a gente se policie, está sempre sujeito a cometer um erro. Somos humanos, não? Então, se alguém comete uma “falha”, por assim dizer, basta “dar um toque”, falar educadamente, às vezes até de forma privada. Mas as pessoas normalmente já “caem matando”, atacando, como se o outro tivesse cometido um crime! 

Há que se entender, também, que o fato de uma pessoa protestar contra uma postagem, comentário, notícia, que entenda depreciativo para algum grupo de pessoas não significa necessariamente vitimização ou, como gostam de falar hoje, “mimimi”. Há coisas que são sérias, graves, e que devem ser corrigidas, debatidas, para que mudemos conceitos e posturas arraigadas. Mas que isso seja feito de forma coerente, adulta, respeitosa, ou se perde a razão. Um exemplo recente: a Claudia Leitte foi desrespeitada por Silvio Santos durante o Teleton por causa da sua roupa. Ela tentou levar na brincadeira, mas cada vez que ele falava algo apenas piorava a situação, e não apenas direcionado a ela, mas ele generalizou a fala para todas as mulheres. Tem a ver com cultura isso? Tem, sem dúvida. Mas ele é um homem público, de uma visibilidade absurda, sem contar que estava em meio a um evento gigantesco de cunho social. Então, tem que ter MUITO cuidado no que diz. E essa não é a primeira “gafe” que ele comete. Houve um caso recente envolvendo a Maísa, que é funcionária do próprio SBT.

Só que o fato da Claudia Leitte reclamar da atitude dele, veio um monte de gente tentar minimizar o ocorrido por conta de uma fala dela durante o The Voice. Mas, por mais que ela tenha se excedido na ocasião, um erro não justifica o outro. Sabe aquela coisa que mãe adora dizer: “se fulano se jogar do barranco você vai se jogar também”? Pois é. Não é porque outros fazem que você possa fazer. Simples assim. Tem uma frase que gosto muito: “o certo é certo mesmo que ninguém o faça. O errado é errado mesmo que todos se enganem sobre ele. (C. K. Chesterton)” Ou, como diz uma de suas variantes, “o errado é errado mesmo que todo mundo esteja fazendo. O certo é certo mesmo que ninguém esteja fazendo.” No exemplo acima, basta substituir a Claudia Leitte por qualquer mulher que você conheça ou respeite. (Ah, mas não dá para comparar, ela não se vestiria daquele jeito. Não interessa. Homem anda por aí sem camisa, com a cueca aparecendo, e todo mundo acha normal.) Você acharia certo, gostaria de vê-la sendo tratada daquela forma? Duvido. Portanto, a atitude em si não está correta, não interessa a quem foi direcionada. Ponto.

Mas o mais grave (e mais assustador) é, sem dúvida, o discurso de ódio que estas pessoas trazem, querendo impor suas opiniões “a ferro e fogo”, não aceitando que outros sequer pensem de forma diferente ou que tenham se expressado mal. Pessoas que consideram a violência solução para tudo, que acham que “surra” é a solução para qualquer problema relativo à educação de crianças e adolescentes, que afirmam que têm que “metralhar toda a bandidagem”, que generalizam conceitos de forma absurdamente preconceituosa, que consideram quem tenha um pensamento ou postura diversa da sua como inimigo mortal. Eu, sinceramente, não consigo entender o motivo de tanta agressividade.

Eu pouco comento em posts, apenas daqueles que eu sei que têm coerência e que estão dispostos a uma troca saudável de ideias. Praticamente sequer posto sobre temas polêmicos porque não tenho paciência para essas discussões que se tornam inflamadas e desrespeitosas. Escrevo aqui no blog porque gosto de escrever, e é um espaço meu, onde os comentários podem ser moderados para que não haja excessos. 

Respeito é a palavra-chave. Ainda que eu não concorde com algo, não tenho o direito de impedir o outro, de invadir o seu espaço e a sua liberdade individual, de ter uma atitude que não gostaria que tivessem comigo ou com aqueles que amo. No máximo, posso controlar o que ocorre dentro da minha casa, mas eu não tenho como viver em uma “redoma de vidro”, então fora da minha casa cada um tem direito a ter suas crenças e valores respeitados, sim. “Ah mas eu não gosto disso”. Ok, direito seu. Não olhe, não faça, não compartilhe, apenas respeite. Pois se o outro gosta, é a vida dele, ninguém tem NADA a ver com isso. E, certamente, há atitudes, escolhas suas, que os outros também não gostam, mas têm que aceitar e respeitar.

Se as pessoas aprenderem a se respeitar e a conviver com a diversidade, todos viveremos muito melhor, com toda a certeza. Será que é tão difícil assim?

Eu volto.

Andréa

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