domingo, 6 de novembro de 2011

6 meses...

Há exatos seis meses aconteceu aquilo que eu mais temia... após um curto período meio adoentado, enfraquecido por algo que, oficialmente, nem foi diagnosticado, meu pai se foi ao encontro de minha mãe. Uma dor tão grande, um vazio tão imenso, que me deixou sem chão, sem rumo.

Seis meses se passaram e, aos poucos, a vida vai voltando ao seu ritmo normal. O apoio e o carinho dos amigos têm sido fundamentais, porque me ajudam a não arriar. Meu pai não gostaria de me ver para baixo! Pois se era ele o primeiro que, ao notar qualquer sinalzinho de preocupação, medo, tristeza ou qualquer outro sentimento assim, tudo fazia para me animar!

Seis meses... a gente vai, devagar, acostumando com a ideia, com a ausência... buscando preencher os espaços de alguma maneira. Mas a saudade... ah... essa não tem como controlar! Essa não passa, não acaba!

O que me conforta é saber (e acredito mesmo nisso) que ele está bem, junto de minha mãe. A saudade dela também é imensa, mas percebo que, diante da ausência de meu pai, a dela já está mais cicatrizada. O que não significa que não doa, é claro. Mas a saudade dele... ainda machuca demais!

Ai, pai... como eu queria poder voltar no tempo, mudar a história, poder ter você comigo outra vez! Como eu queria poder lhe abraçar de novo, ter meu companheiro de papo, meu ombro, meu colo, fosse por e-mail, telefone ou ao vivo... como eu queria meu "Severino quebra-galho", reclamando da minha exploração... como eu queria meu "paiaço", falando bobagem, fazendo eu dar risada! Como eu queria ter você aqui de novo!!! Amo tanto você, pai... tanto... fique bem, e feliz. Porque eu vou conseguir dar a volta por cima, cicatrizar essa ferida, e ser feliz também.

E, em homenagem a meu pai, vou começar aqui a postar mensalmente textos que ele deixou. Textos que escreveu para jornais de bairro na época que tínhamos a loja, e que juntou em um livro, ao qual intitulou "Vida... reflexões sobre o ser humano pelo prisma esotérico", nunca publicado. Mas são textos ainda muito atuais, que não merecem ficar esquecidos. Começarei com um de seus favoritos, "Um Pequeno Pardal". Espero que apreciem! ;)

UM PEQUENO PARDAL
Ronaldo Tikhomiroff

Existem momentos na vida em que nos sentimos desorientados, sem rumo, perdidos em uma série de fatos que nos levam a refletir sobre o que realmente está nos acontecendo e que caminho tomar. Todos nós passamos por isso.

Amigos nos aconselham, parentes nos confortam, todos procuram nos mostrar a saída, e nada...

Vasculhamos nossos sentidos, pesquisamos nossa mente, procuramos raciocinar e só vemos uma perspectiva: a mais cômoda, a mais imediata, a mais direta...o óbvio.

Eis que dia desses estive assim, como que perdido em meus pensamentos, procurando ordenar minhas idéias e traçar meus objetivos. Ansiava por uma solução imediata. E nada!

De repente, entra loja adentro um amiguinho alado: um pequeno pardal. Voou direto para o fundo da loja, cerca de vinte metros, atraído talvez pelas plantas e pelo teto de vidro, e lá pousou sobre as samambaias. Parecia perdido como eu.

Daquele local não mais saía, voando de planta em planta, sem encontrar seu rumo para a liberdade. Depois de um bom tempo, descansou sobre as plantas, de bico aberto. Parecia haver desistido de continuar tentando descobrir a saída.

Todos nós, preocupados em salvar o pequeno pássaro, procurávamos guiá-lo para a porta da loja, escancarada lá na frente, a vinte metros de distância... Mas o pardalzinho parecia não entender. Tentamos pegá-lo com as mãos para levá-lo para fora, mas ele não permitia...procurava aquietar-se como que aguardando novas forças para uma nova tentativa, ou apenas uma orientação...

Quando já estávamos desistindo de tentar ajudá-lo, ele alçou vôo em direção inesperada: direto para a janela basculante da cozinha, a apenas quatro metros de onde se encontrava, dali alcançando os ares e sua liberdade.

Não foi uma fábula nem um conto infantil. Um fato real que merece pensarmos a respeito: nem sempre a solução para nossos problemas está à nossa frente, nem sempre é o caminho mais óbvio. Ainda que amigos nos tentem ajudar, ainda que nos estendam as mãos, está dentro de nós, através de nossa própria aspiração, sem que procuremos a lógica e a razão para nos guiar, o caminho que devemos seguir.

Se deixarmos que nossa aspiração mais intima se faça sentir, por certo daremos o passo correto na vida, pois ela vem de estados sutis, onde nossa mente não tem poder de interferir. É a libertação do livre-arbítrio, tão necessária nos dias de hoje.

Estávamos a indicar um caminho para nosso querido pardal. Com todo afeto e amor. Porém estávamos sendo guiados por nosso raciocínio, mostrando o caminho que diariamente repetíamos, indo e vindo ao longo da loja. Para o pequeno pássaro, não lhe interessava percorrer a loja, pois só havia entrado para estar com as plantas. Interessava apenas SAIR daquele espaço fechado pelo caminho mais curto. Para sua aspiração, aquilo era o ÓBVIO!

E eu? Deixei de me preocupar com as soluções racionais para aquilo que me afligia. Ouvi com toda atenção e amor tudo aquilo que amigos me diziam, pois a intenção era boa. Porém deixei que minha aspiração me comandasse...e estou descobrindo meu caminho. Obrigado, amiguinho!

Eu volto...

Andréa

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