quarta-feira, 6 de maio de 2015

Uma saudade de quatro anos...


Hoje faz quatro anos do meu maior pesadelo... :'( Dez anos antes, quando minha mãe partiu, foi tudo muito de surpresa, um susto mesmo, até pela forma como ela foi. Eu nunca tinha, até então, pensado seriamente em ficar sem meus pais e, de repente, um enfarte fulminante a levou. Um "murro na boca do estômago", como meu pai colocou, que nos deixou sem ar, sem chão, num sentido de irrealidade absurdo. 


Eu sempre fui "unha e carne" com minha mãe, nós nos entendíamos de uma forma absurda, pensávamos da mesma maneira, gostávamos das mesmas coisas. Meu pai até me chamava de "advogada" dela, porque sempre lhe dava razão! :D Não a ter ao meu lado, de uma hora para a outra, foi um baque monstruoso! :( Mas eu tinha as meninas muito pequenas, que entendiam a situação menos do que eu, e tinha meu pai ao meu lado. Ainda que tenha ficado em depressão durante um ano e meio, ele estava lá, tentando me dar uma força que ele próprio não possuía. E eu, de minha parte, procurava lhe dar força também, ao mesmo tempo que buscava amparar as meninas.

A aproximação que resultou desta dor foi algo imensurável! Éramos os dois para segurar a barra das pequenas, para segurar a barra de casa, e a ausência de uma verdadeira matriarca. Ainda que ele tenha, durante os anos seguintes, tido relações com outras mulheres, o que existia entre nós era impenetrável, indestrutível. Não havia tabu, não havia assunto proibido. Um apoiava o outro incondicionalmente. 

Assim foi durante dez anos. Comemoramos juntos a vitória do prefeito que apoiávamos em Serra Negra. Vibramos juntos no pentacampeonato. Sofremos juntos quando o sucessor do prefeito foi derrotado. Estávamos juntos quando a Thabata começou a se envolver com drogas. Ele segurando a onda mais do que eu até, porque eu trabalhava fora da cidade e fazia faculdade à noite. Choramos juntos dançando a valsa na minha formatura. E ele me segurou, MUITO, quando aconteceu a primeira enchente em casa...

Eu confesso que, a partir do momento em que minha mãe faleceu o terror de perdê-lo me assombrava, não gostava nem de pensar no assunto. E ele, sendo homem (e bom filho de dona Glacy...), qualquer gripe parecia que estava morrendo, só piorava as coisas! :P Tive muito, muito medo dele não estar presente em minha formatura, como se algo me dissesse que estava próxima a nossa separação física. O discurso de homenagem aos pais, no dia da minha colação, feito por um rapaz que havia perdido o pai quinze dias antes me tocou profundamente, porque temi demais passar por aquilo.

Então, pouco depois do baile e da enchente, a coisa começou a desandar. Uma gripe que não passava, uma internação por causa de anemia levantando a suspeita de um tumor, cada hora uma coisinha que ia surgindo, uma nova internação... um período terrível, que durou pouco mais de um mês (mas pareceu bem mais) e que acabou por levá-lo. :'(

Jamais me rebelei... ao contrário: agradeci e agradeço a Deus diariamente por não tê-lo deixado sofrer. Aqueles poucos/tantos dias foram enfrentados com uma valentia típica daquele que me dava força com duas palavras decisivas: "tenha Fé". Ainda hoje, quando algum percalço da vida me atropela, pareço escutá-lo: "tenha Fé". :)

De uma hora para outra eu me vi no "topo da pirâmide", responsável única e exclusiva pela família. Com uma irmã meio descabeçada, uma sobrinha chegando ao fundo do poço por conta das drogas (e sentindo demais a perda do seu referencial masculino), e uma outra que se mostrou, mais uma vez, minha parceira de vida!  Foi com o apoio da Samara, ainda só uma menina, que segurei a barra da internação da Thabata, a perda da minha Milla, a segunda enchente, e a terceira também, mais todo o baque financeiro que resultou disso. Como sobrevivi a tanta coisa? Ouvindo (e seguindo à risca) as duas palavrinhas mágicas de meu pai: "tenha Fé"! ;)

Eu SEI que ele (assim como minha mãe) está sempre por perto, olhando por nós. Mas como faz falta poder FALAR, poder ABRAÇAR, poder OUVIR... sem contar que em determinados momentos parece que tudo retorna, né? Outro dia cheguei em casa e me peguei pensando: "nossa, que bom que cheguei cedo, posso ligar para o meu pai"! Oi??? Claro, ele devia estar próximo... mas o emocional balança nessas horas, viu? :/

Óbvio que a dor, a esta, altura já diminuiu e se tornou uma saudade que permite lembrar dele achando graça das suas "bobagens", rindo das suas palhaçadas, sentindo ternura pelos pequenos carinhos que ele colocava em cada gesto, cada palavra. Os emails assinados com "bjs, Papai", o jeito dele me olhar dizendo "tá bonita", o café com pão na chapa na padaria (que o "língua de amianto" bebia de uma golada!), as idas para Amparo para trabalhar, reparando nas árvores do caminho ("o velho" era a sua preferida)... tantos pequenos/grandes detalhes! 

É uma saudade que a cada 06 de maio se renova... 

Ah, mas não pensem vocês que eu estou triste ou deprimida. De forma alguma!!! Sou filha de "seu" Ronaldo e "dona" Solange, isso não me pertence! ;) Apenas hoje é dia de lembrar daquele que foi meu maior e melhor amigo. É dia, até mesmo, de deixar correr algumas lágrimas por aquele para quem "nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito, nada é maior que o meu amor, nem mais bonito". ;)


Amo MUITO você, meu pai! Um dia a gente se encontra, certeza!!!

Andrea

0 comentários:

Postar um comentário