sábado, 20 de junho de 2015

A necessidade de mudança na Educação

No início do ano, após a divulgação do resultado do Enem/2014, escrevi um post falando sobre a questão do ensino em nosso país. E, a cada dia que passa, mais tenho a certeza de que é urgente promover uma mudança global na estrutura existente. Não é tarefa simples, longe disso, mas extremamente necessária.

De um lado, encontramos as queixas dos professores, que além da má remuneração ainda aguentam a falta de educação dos alunos, cada vez mais mimados, desacostumados a ouvir “nãos”, ou desatentos, mais interessados nos celulares do que nas aulas. :/ Pior: encontramos os relatos assustadores dos mestres acuados em sala de aula, vítimas de agressões por parte de alunos e, até mesmo, pais de alunos, que cobram atitudes condescendentes, notas boas nos boletins, ainda que sem merecimento.

De outro lado, encontramos as queixas dos pais, por uma escola “como antigamente”, onde os alunos eram alfabetizados de forma consistente, sabiam a tabuada “de cor e salteado”, onde havia interesse por parte dos professores em se aprimorar e ensinar, de fato, os alunos, não apenas “passar matéria”. Os pais clamam por uma escola que aceite todo e qualquer aluno e que os desafie de fato, mas respeitando seu ritmo de aprendizado. Inclusão, sabem? Assim... de verdade? ;) Mas está difícil encontrar... Vemos pais sonhando com uma escola que trate os alunos como PESSOAS, antes de mais nada, que pensam, têm sentimentos, histórias, interesses próprios.

Encontramos, ainda (e talvez principalmente) alunos, muitas vezes desmotivados, desatentos, desinteressados no aprendizado como é transmitido hoje, levando a escola “na flauta”. Outros, claro, empenhados, preocupados com seu futuro, muitas vezes estressados em demonstrar seu potencial através das boas notas obtidas nas provas, literalmente “se provando” diariamente.

Sem contar os sistemas apostilados, verdadeira febre atualmente, que proporcionam a industrialização do que deveria ser artesanal: o aprendizado. Através destes sistemas, o ensino é dividido em unidades, que são tratadas muitas vezes em uma sequência onde não há preocupação com a ligação entre os temas. Acabou uma unidade? Passa­-se para a seguinte, como se a anterior não tivesse relevância mais. Aluno ficou doente, faltou, perdeu uma unidade? Problema dele e dos pais, estude em casa agora, o professor não tem nada a ver com isso. Não entendeu da forma que foi explicado? Ah, amigo... se esforçasse mais, né? A falha é sua, não do método ou do professor! Agora já foi, o assunto já mudou! CLARO que estou falando de forma generalizada, nem todos são assim. Mas vejo reclamações constantes, então não é tão raro também.

Onde está a razão? Em todos, eu diria. E suprir todas as queixas só será possível buscando uma real transformação da Educação. Como diz José Pacheco, estamos em pleno século XXI ensinando como se fazia no século XIX! Não pode dar certo!!! O mundo mudou radicalmente nestes anos todos, em todos os sentidos! Mas a escola não acompanhou estas mudanças... de que adianta termos hoje computadores nas escolas, lousas digitais, livros sendo substituídos por tablets, mas continuarmos querendo que os alunos fiquem enfileiradinhos ouvindo o professor e seguindo a sua orientação soberana? Não é à toa que eles buscam distração nos celulares, da mesma forma que a minha geração fazia com jogos de “stop”, velha, forca, ou troca de figurinhas! (Não que eu fizesse isso, claro... :P ) É muito chato aprender assim!!! :( E será que precisa ser chato? Aprender não pode ser prazeroso, divertido? Claro que pode! :D E sendo prazeroso aprende-se mais rápido e melhor, com toda a certeza!!!

A falha vem ocorrendo desde o princípio! A base dada aos pequenos precisa ser bem construída, para permitir o progresso contínuo e consistente dos educandos. O construtivismo, para a alfabetização, pode ser interessante e funcionar para algumas crianças, mas não para todas, isso está mais do que claro. O número de analfabetos funcionais é gigantesco, e se reflete no desempenho global dos estudantes! Sem ler e escrever de forma adequada, como podem aprender as outras disciplinas, pesquisar, se informar... como podem se expressar corretamente? :/ Há crianças, sim, que aprendem pelo construtivismo, mas há outras para quem o método fônico é mais eficiente ou, até mesmo, as “ultrapassadas” cartilhas! O importante é que aprendam a ler e escrever com fluência, sem erros, não importa o método!

A colocação de rótulos, como se a escola fosse obrigada a lançar mão de um método exclusivo, só atrapalha! É mais importante a escola dizer “aqui nós trabalhamos com o construtivismo” (e depois vermos crianças com 10, 11, 14 anos sem saber ler e escrever direito) ou “aqui todas as crianças são alfabetizadas pelo método que cada uma responder melhor” (e de fato todas serem alfabetizadas a contento)? A ausência do rótulo permite a flexibilidade da ação, permite mudar de caminho quando um não está funcionando como se esperava. ;)

Mesma coisa a tabuada! Ok, sou favorável que a criança entenda o processo, de que forma que aquelas tabelas são construídas Primeiro porque é importante desenvolver o raciocínio lógico das crianças e, até mesmo, porque se em algum momento ela não lembrar um resultado, saberá chegar a ele por outro caminho. Deixa de ser mera "decoreba". Mas a criança vai ter que, em algum momento, memorizar as benditas! Não tem jeito! É isso ou ficar escravo de calculadoras e “colas”... não dá! É chato? Até é, mas nem precisa ser... transformar a tal “decoreba” em algo lúdico não é tão complicado assim! ;) E é necessário, quanto antes as crianças forem estimuladas a isso, melhor para elas mesmas, vai facilitar em todo o aprendizado da matemática, da física...

Tenho ficado, cada vez mais, convencida de que a educação pautada na autonomia do aluno é o melhor caminho. Recentemente participei de um curso sobre a Escola da Ponte, e mais especificamente sobre o Projeto Âncora, no Brasil, que segue seus preceitos. É fascinante! E tão mais lógico, tão mais fácil...

(nessa foto o Samuel, filho do Fábio Adiron, faz uma apresentação na feira de Ciências da escola)

É o aluno como senhor de seu processo de aprendizado, tendo o professor como seu guia, mentor, instigador, oferecendo todo o suporte que for necessário. É proporcionar oportunidade para que o aluno vá em busca do conhecimento, em livros de diversos autores e métodos, revistas, internet, o que lhe trará um aprendizado muito mais consistente do que aquele adquirido numa aula expositiva. Ainda mais nos dias atuais, em que a informação está aí, ao alcance das mãos, nos celulares, tablets, computadores. Desafie o aluno e ele aprenderá, de fato, e não para “tirar nota na prova”, esquecendo tudo em seguida. Você nunca passou por isso? :/

Claro que a autonomia não é adquirida “da noite para o dia”, é ensinada também. Permitindo que as crianças saiam da "redoma de vidro", experimentem, tentem fazer as coisas. Com segurança, claro. Os pais ou os responsáveis devem estar sempre atentos e prontos a intervir caso necessário, principalmente com os pequenos. Até porquê, ser autônomo não significa fazer (ou aprender) sozinho, mas saber buscar as respostas, saber pesquisar, perguntar, experimentar e, até mesmo, pedir ajuda quando necessário, seja ao colega, aos pais, ou ao professor. Ser autônomo proporciona ao aluno maior independência, maior segurança, maior autoestima, maior confiança em si mesmo. E não é isso que os pais (deveriam querer) querem para os filhos? ;)

A Educação vem mudando no mundo. Cada vez é mais frequente lermos notícias de países abolindo notas, disciplinas, alterando a forma de ensinar. Além, claro, de experiências pontuais, como a Ponte, como o Projeto Âncora, e como diversas outras escolas aqui mesmo, no Brasil. :D Mas precisamos mais! Muito mais!!!

É claro que, mudando­-se a forma de ensinar, é essencial mudar também a forma de avaliar os alunos! Eliminar, de uma vez por todas, esse esquema falido de provas, notas, reprovações, e partir para a avaliação formativa, avaliando o aluno constantemente, a cada passo dado. :) Na Ponte, por exemplo, o aluno determina o momento de ser avaliado, quando se sente confortável com aquilo que estudou. Ele tem um plano quinzenal, com todos os tópicos que deve aprender naquele período e, quando está satisfeito com o seu aprendizado coloca seu nome e o tópico em questão numa tabela chamada “eu já sei”, para que o professor possa lhe avaliar. E se ele não responder a contento? Não há problema! O professor direcionará aquilo que não ficou bem claro, permitindo ao aluno preencher as lacunas e, quando o este entender que pode ser avaliado novamente, volta a colocar o nome na tabela. Simples, sem cobranças excessivas, sem estresse! ;) Ah, passaram-se os quinze dias e ele não deu conta de tudo? Tranquilo! O que ficou para trás vai para a próxima quinzena, há tempo suficiente! Vai dizer que você nunca precisou postergar uma meta porque abraçou coisa demais ao mesmo tempo? ;)

Quando fiz o curso, uma colocação chamou minha atenção por resumir a diferença entre essa “nova Educação” proposta pela Ponte, e a que praticamos: a Educação, como é praticada no Brasil (e em outros locais ainda) determina um tempo fixo para o aprendizado, permitindo disparates na qualidade do que é aprendido. O objetivo acaba se tornando o ano letivo em si, ao invés do aprendizado efetivo. Na Ponte, determina-­se que TODOS devem aprender TUDO, não importando o tempo que levam para isso. O objetivo é o aprendizado de excelência, e tempo é todo o período de duração do Ensino Fundamental. :D

Não havendo a divisão por séries, nem classes preestabelecidas, cada aluno vai aprendendo no seu ritmo, caminhando de acordo com as suas possibilidades. Pode avançar mais rápido em uma disciplina, ir mais devagar em outra, mas sabe que tem que cumprir o currículo estabelecido pelo governo. E, de modo geral, os nove anos “disponíveis” para o Ensino Fundamental mostram­-se mais do que suficientes para tal meta, possibilitando, inclusive, estudos à parte do currículo oficial! :)

Mesmo alunos com deficiência saem ganhando neste formato. Alunos com deficiência intelectual, já se sabe, podem avançar nos estudos se lhes forem dados tempo e oportunidade. Num formato como o proposto pela Ponte, além de tudo ganham a autonomia e a segurança tão necessárias para uma vida independente. :D Elimina-se, desta forma, as barreiras tão disseminadas nas escolas regulares: falta de preparo, necessidade de um tutor em tempo integral (salvo exceções, claro, em caso de limitações mais severas de mobilidade)... permite-se a inclusão escolar de fato, a Educação para todos, sem exceção, que é meu sonho e de muita gente! ;)

Outro detalhe importante, é que a Educação, na Ponte e em qualquer outro local onde exista a busca por excelência, ocorre em período integral, e não em turnos, como aqui. Deixa de existir, quase totalmente, a estressante “lição de casa”, tirando dos ombros dos pais a obrigação de “fazer a lição”com os filhos, “tomar a matéria” na véspera da prova para se certificar que estão preparados. Algo que é complicado muitas vezes, visto que os pais não têm o conhecimento necessário para ajudar aos filhos. Para casa só vão tarefas muito pontuais, como uma entrevista com os pais ou avós, uma pesquisa a ser realizada no bairro em que moram, etc. O restante é visto na escola, há tempo de sobra para isso! E tempo, ainda, para atividades de artes, música, esportes, etc. Escola em tempo integral para uma Educação Integral. Muito mais coerente, muito mais funcional. ;)

Mudar a cultura, a mentalidade das pessoas é complicado, claro. Mas é preciso mudar. Urgentemente. Pelo bem das nossas crianças, pelo bem das novas gerações deste país.

Para reflexão deixo aqui um vídeo. Deliciem­-se! :D


Eu volto.

Andrea

Só um adendo... depois de escrever, reescrever, escrever de novo este texto, descobri essa entrevista do José Pacheco à Revista Fórum e percebi colocações muito semelhantes. Mera coincidência? ;) Acho é que a "pupila" aqui tem aprendido direitinho a lição! :D

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