sábado, 21 de fevereiro de 2015

Aborto x Vida


Ultimamente tenho visto muita discussão acerca da descriminalização do aborto e do direito da mulher ao seu corpo. Os argumentos são os mais diversos e, vistos sob o prisma material, até têm certa lógica. Mas não se vistos sob o prisma espiritual. :/

Ok, eu entendo que não se está discutindo religião, e que o estado brasileiro é laico. Não quero bancar a “dona da verdade”, respeito todos os pontos de vista, e posso até aceitar a opinião de cada um. Cada um tem sua verdade, de acordo com o seu entendimento acerca da vida e dos seus ‘mistérios”. Mas isso não significa, de forma alguma, que eu concordo com os argumentos colocados, ou que me é possível apoiá-los, mesmo que para agradar os outros. Respeitar é uma coisa, concordar é outra bem diferente. E, da mesma forma que aqueles que são favoráveis à descriminalização do aborto querem que eu respeite sua posição, também quero que respeitem a minha. ;)

Minha família tem base espírita, e o entendimento que adquiri desde pequena sobre a Lei Evolutiva, sobre a Lei do Carma, torna impossível dissociar os dois prismas. Já dizia Einstein: “A ciência sem religião é manca; a religião sem ciência é cega”. Material e espiritual se complementam, não há como separar um do outro. Ponto.

O homem, mais do que este ser material, é um ser espiritual. O corpo físico é um veículo que recebemos ao encarnar, com a finalidade de cumprirmos aquilo para o qual viemos, e que devolveremos quando nossa estada por aqui terminar. Não é “nosso”, deveríamos respeitá-lo e cuidar dele da melhor forma possível, o que na maior parte das vezes não acontece.

Por outro lado, a partir do momento em que há fecundação, há vida. Minúscula, é verdade, mas vida. É a partir deste momento que o espírito assume o zigoto, e começa a imprimir suas características para modelar o corpo físico que usará durante o período em que estiver encarnado. Vida. E ceifar uma vida, para mim, é crime. Simples assim. Sem contar que legalizar o crime afeta, ainda, o astral coletivo, que já é tão carregado.

Não cabe em minha cabeça o descarte de uma vida, seja embrionária ou não. Por isso mesmo, não sou favorável à pena de morte, não aceito o descarte de embriões em clínicas, a seleção de embriões em laboratórios, os experimentos com animais ou embriões, sequer me alimento de carne. Quem decide a hora de quem quer que seja encerrar sua vida na Terra é Deus, não eu ou qualquer outro ser humano. Ninguém tem (ou deveria ter) tal poder. E, se isso não cabe em mim, como posso ser favorável a dar esta opção a alguém? Eu estaria agindo contra os meus princípios, contra a minha Verdade, não seria EU!

“Ah sim, então se você fosse estuprada e engravidasse, acha que deveria levar a gestação adiante”? Sim. Deveria. Porque não acreditaria, em momento algum, que tivesse ocorrido um “erro de cálculo”. Deus não cochila. Não cai uma folha da árvore sem que Ele assim determine. Tem mulheres que levam anos tentando engravidar em vão. E, de repente, um único ato (violento, ok) é capaz de fecundar e gerar a vida. Acaso? Não acredito mesmo. Essa gestação ocorreu pela lei do carma, com toda a certeza algo de muito sério existe entre aqueles seres, e fugir da situação só vai adiar algo que, mais cedo ou mais tarde, terá de ser resolvido. É pesado? Sem dúvida, nem consigo imaginar como é lidar com isso, mas tem algo ali que não pode ser ignorado. E eu acredito, piamente, no ditado que diz que “Deus dá o frio conforme o cobertor”, ou seja, ninguém recebe uma carga maior do que aquela que é capaz de suportar. Mesmo que a maioria pense o contrário!

“Ah, então é melhor abandonar a criança para adoção”? Acredito que sim. Talvez até esteja negando a tarefa a que se propôs ao encarnar, mas pelo menos não ceifará uma vida. Talvez, ao contrário, seja apenas um veículo para que a vida em seu ventre possa equilibrar seu próprio carma. Quem pode saber a complexidade que envolve o caminho de cada um?

Quando minha irmã engravidou aos 15 anos, muita gente lamentou a gestação ser descoberta já tardiamente, porque minha mãe não poderia “forçá-la a tirar” a criança. Como se minha mãe sequer pensasse em fazer isso... Quando minha irmã engravidou novamente aos 17, e aí a gestação descoberta logo, houve uma enxurrada de pessoas que aconselhou minha mãe a fazê-la abortar! Meu Deus... como assim? o.O Como posso imaginar, hoje, minha vida sem a presença de Samara e Thabata? Moças lindas, já com 20 e 18 anos... mesmo com todo o trabalho que Thabata me deu por conta da dependência química, jamais trocaria sua existência por nada. Em tudo que passei nos últimos anos, agradeci e agradeço a Deus diariamente por tê-las ao meu lado. Ainda que Alessandra não tenha assumido a responsabilidade como deveria, isso é uma escolha dela, de seu livre-arbítrio. E as consequências dessa escolha é ela quem vai ter que acertar, nesta encarnação ou numa próxima.

Sim, o livre-arbítrio existe. Foi dado ao homem fazer escolhas, o que não significa que estas estejam de acordo com as Leis Espirituais. Mas ao fazer uma escolha, deve-se estar consciente de que toda ação gera uma consequência. É a Lei do Carma. Tudo que aqui passamos tem um propósito. Provas, quase sempre, surgem para equilibrar algum ato falho que cometemos anteriormente. Sabe aquela história de que a gente colhe aquilo que semeia? Pois é. :/

Conformismo? Longe disso. Apenas entendimento de que sou pequena demais para compreender o bordado que Deus está preparando para minha vida. Tudo tem uma explicação, tudo tem uma razão de ser, ainda que a nossa mente não seja capaz de captar. E isso vale para tudo, não só a gestação.

Foi essa a visão que tive quando minha mãe partiu tão cedo, quando passei pelas enchentes e perdi tudo o que tinha de material, quando meu pai adoeceu e acabou partindo de forma tão rápida. Jamais me revoltei. Tive momentos, sim, de profunda tristeza, até de desespero emocional, porque afinal de contas sou humana. Tenho fraquezas e pontos a serem melhorados, ou não estaria aqui neste nosso planetinha. Mas, imediatamente após baquear, eu lutava para me reerguer, porque sempre acreditei que tudo estava acontecendo como deveria, que tudo o que estava ocorrendo tinha motivo e, de repente, tinha até sido escolhido conscientemente por mim antes de voltar a encarnar por aqui. Porque isso acontece, é fato. :) Sempre que passava por algo difícil meu pai me falava apenas duas palavras: "Tenha Fé"! Ainda hoje sinto que o escuto falando isso... 

Claro que aqueles que desconhecem o espiritualismo, seja através da Doutrina Espírita ou qualquer outra vertente, têm dificuldade em aceitar seus preceitos. Consideram-nos falhos, e isso é natural. Chegam a considerar que o espiritismo (normalmente o mais citado, por ser mais conhecido) coloca o nascimento como castigo, quando está bem longe disso.

Entender que o bebê que está sendo gerado não caiu aqui “de paraquedas”, que tem uma história por trás, nós a serem desfeitos, laços a serem trabalhados, traços a serem melhorados, simplesmente abre uma compreensão muito maior sobre a vida dele. Permite entender os “disparates” que encontramos, de bebês que partem logo após o nascimento, ou que nascem cheios de limitações, enquanto outros chegam “perfeitos”, às vezes vivem até se tornarem centenários. Explica porque alguns têm a vida tão fácil, cheia de regalias, ao passo que outros têm uma prova após a outra. Tudo tem motivo. Tudo. E é na concepção que o desenho começa a ser traçado.

Mas não cabe a mim discutir ou, pior, impor nada a ninguém. Primeiro porque, como disse, cada um tem sua própria verdade, de acordo com suas crenças. E, também, o tema é muito complexo. Já escrevi um monte e nem comecei a elaborar direito... há tanto a ser dito ainda! Eu apenas espero que as pessoas aceitem a minha posição, da mesma forma que querem (ou exigem) que eu aceite a delas. ;)

Não posso ser favorável à descriminalização do aborto, porque isso fere o âmago de meu ser, fere todos os princípios nos quais acredito e pelos quais eu vivo. Mas nós vivemos numa democracia, aqui neste plano material, não? Todos têm direito a opinar, e a opinião da maioria vence (seja acertada ou não). Então, se a maioria decidir pela descriminalização, terei que aceitá-la como verdade, por mais que me doa, por mais que não concorde, por mais que lamente. Mas, de forma alguma, posso pactuar com tal decisão.

Eu volto.

Andréa

(A imagem que ilustra este post é muito significativa. Mostra um feto de 21 semanas sendo operado dentro do ventre para corrigir uma espinha bífida, e que em determinado momento segura a mão do médico que o opera. Vida.)

0 comentários:

Postar um comentário