sábado, 21 de março de 2015
Aos meus amores...
Dia 21/03, Dia Internacional da Síndrome de Down. Um dia de
celebrar conquistas, de cobrar mudanças, de tirar da invisibilidade um monte de
pessoas ainda ignoradas por boa parte da população.
Para mim, mais do que isso, dia de desejar a cada um dos meus
amores que eles consigam conquistar tudo que desejarem! Que não sejam tolhidos,
que ninguém lhes diga até onde são capazes de ir, porque certamente podem ir
muito além do que essas pessoas sequer imaginam! Que seus pais nunca desistam,
que acreditem neles e lutem, muito, para que os direitos de seus filhos seja
garantido. Que eles possam estudar em escolas regulares, sendo desafiados a
cada dia. Que sejam aceitos no mercado de trabalho como pessoas capazes que
são. Que possam andar pelas ruas sem olhares piedosos ou desconfiados. Que
possam amar, namorar, casar, constituir suas famílias. Que, como disse o dr.
John Langdon Down, eles “sonhem alto o bastante”, e alcem voos cada vez mais
longe! O céu NÃO É o limite! ;)
Pensar no dia de hoje me faz pensar em como todo esse meu
envolvimento começou... como a maioria sabe, não tenho filhos ou parentes com
Down. Até bem pouco tempo, era totalmente leiga no assunto... então, como eu me
envolvi desta maneira? Por que o interesse? Por que tanto AMOR? A história
começa um bocado longe...
O dia 08/08/88 foi uma data especial do ponto de vista
esotérico, representando uma mudança de ciclo importante para o nosso planeta.
Acreditem ou não, eu e meus pais sentimos essa “virada” de forma bastante
intensa. Muita coisa aconteceu em nossas vidas a partir daquela data, mudanças
significativas, principalmente em termos espirituais.
O ano de 1988 propriamente dito foi um ano que podemos chamar
de “pesado” em casa. Perdemos muitas pessoas importantes durante ele, passamos
experiências fortes, e a carga foi tamanha que causou um travamento de coluna
em minha mãe que a manteve presa à cama por mais de dois meses, e uma
recuperação bem lenta até ela ficar em forma novamente. Meses depois, começando
a estudar a Numerologia, dei-me conta de que minha mãe atravessava naquele
período o chamado “número da morte”, onde ela tinha o arbítrio de dar uma
guinada espiritual ou desencarnar de fato. Ela escolheu a primeira opção, ainda
bem! :)
E, nesta guinada, não só ela, mas também meu pai e eu,
acabamos chegando a um grupo espiritualista. Interessante que cada um de nós
três chegou ao mesmo ponto seguindo caminhos diversos. Partindo do espiritismo,
que era nossa base comum, trilhamos estradas individuais e convergimos para a
mesma conclusão. Não abandonamos a base, ao contrário, apenas ampliamos a
visão. Foi um período intenso, rico em nossas vidas, que nos transformou por
dentro e por fora.
Mas o que tudo isso tem a ver com o “Dia Internacional da
Síndrome de Down”? Para mim, tudo! Porque foi neste grupo que tive o primeiro e
definitivo contato com os meus amores de olhos amendoados! E como foi isso?
Antes de contar, um pequeno parêntese. Minha mãe, desde muito
nova, foi apaixonada por Down. Cursou Especialização em Pré-primário visando,
ao final, especializar-se em Educação Especial por causa deles. CLARO que não
estou falando aqui do conceito atual de Educação Inclusiva, até porquê isso
aconteceu entre o final da década de 1960 para início de 1970! Só que ela
casou, eu nasci... e baguncei com os planos dela! Mas era um desejo tão forte
que constava, na ficha do homeopata, que a grande frustração da vida dela era
não ter trabalhado com Down! Ok... o termo usado na ocasião não era esse ainda,
como podem imaginar. ;)
Mas, independente do termo usado, o sentimento dela era de
amor profundo e, não por acaso (não acredito em coincidências) acabamos
assistindo uma palestra daquele grupo espiritualista onde foi aberta uma proposta
de trabalho voluntário com crianças e jovens com Down. Preciso dizer que ela
foi correndo se inscrever? E eu e meu pai fomos “na cola”, sem saber muito bem o
motivo.
Não vem ao caso aqui detalhar de que forma o trabalho foi
desenvolvido, porque eu teria que me estender demais, e não é o caso. Teve seu
ciclo e foi encerrado alguns anos após. O que importa é que foi um período
incrível, de grande e intenso aprendizado para todos nós. E, mais do que isso,
um período que nos vinculou eternamente a essas pessoas.
No meu caso, especificamente, a coisa tomou uma proporção
engraçada, maluca até, principalmente depois que minha mãe faleceu, em 2001.
Parecia brincadeira, mas onde eu olhasse, o que eu fizesse, dava de cara com o
assunto. Sério. Eu ligava a tv, passava uma reportagem. Comprava uma revista,
tinha uma matéria. Clicava num link “nada a ver”, aparecia um site, uma
referência. Saía de casa, dava de cara com uma criança, um jovem com Down na
rua. E eu morava em Serra Negra, onde nem se vê tanta gente com Down assim! Uma
amiga até brincava comigo que não era possível, eu devia ter um “imã para
Down”! o.O
Tempos depois, resolvi ceder aos apelos de outra amiga, e
acabei me cadastrando no Orkut. Comecei a encontrar colegas de escola, amigos
com os quais tinha perdido o contato e, quando vi, estava viciada no bichinho! Aí comecei a interagir
mais, procurar comunidades que me interessassem, e acabei encontrando uma sobre
síndrome de Down, criada pela Michele, irmã de uma das crianças que eu havia
trabalhado (minha linda e figuraça Mylene), hoje uma artista plástica
talentosíssima! E aí... foi o “click” que faltava! Comecei a entrar em outras
comunidades, acabei me inscrevendo também no Gazzag (alguém lembra deste?) e a
me “soltar”!
O difícil SÓ era me apresentar... afinal, quem era eu, qual o
meu interesse, estava fazendo o quê ali? Fazer as pessoas entenderem que era
por amor, simplesmente, era muito difícil! Até porquê, há cerca de dez anos,
quando essa fase se iniciou, o preconceito era bem pior do que hoje, então
muitos pais ficavam desconfiados mesmo. Mas aí... através do Gazzag eu conheci
a Beth, uma pessoa super especial, que é mãe de um gaaaaaaaaato :D e que me convidou a participar de um grupo no Yahoo, o Happy Down! De novo a “sina” das
apresentações, mas dessa vez, como entrei “apresentada”, foi um pouquinho mais
fácil.
E a cara-de-pau da pessoa aqui é tanta que, pouquinho tempo
depois fui para São Paulo para participar de uma festa do grupo! Mal conhecia
as pessoas virtualmente, mas fui assim mesmo! E fui tão bem recebida (como
esquecer o mega abraço da Lena na entrada?) que depois disso não tinha mais
volta: estava “mordida” em definitivo! Para completar (como se ainda precisasse), aparece uma Bel doida na minha vida e me "nomeia" DindaNet do (seu) MEU Gabriel! :) Um tempo depois, a Cris fez o mesmo convite para o MEU :D Ursão Bernardo! Como resistir?
Daí a começar a entrar em outros grupos, foi um pulo! Mas o
que acabou fazendo a diferença, em termos de consciência, mudança de atitude,
de cabeça mesmo, foi o grupo Síndrome de Down, também do Yahoo, onde além de
pais também participam profissionais de diversas áreas. O Fábio Adiron, seu
moderador, é defensor ferrenho da “inclusão ampla, total e irrestrita”, e foi quase
um mentor neste processo. Ali eu comecei a perceber o quanto ainda agimos
errado, o quanto não enxergamos o nosso entorno, o quanto precisava (e continua
ainda precisando) ser feito para que pessoas com deficiência (e aí eu ampliei a
visão e passei a ver toda e qualquer deficiência) tenham direito a uma vida
digna e plena. A luta pela inclusão tinha entrado em mim, em definitivo.
Eu sempre fui muito “palpiteira”, mas o que falava nos grupos
provinha da intuição e da experiência com minhas sobrinhas, que apesar de
crianças na época não têm Down. E eu percebia que nem sempre o que falava era
levado a sério. Era leiga, totalmente! Ainda assim, xereta que sou, ajudei a
organizar um fórum sobre inclusão em Serra Negra, idealizei e auxiliei na
elaboração de uma cartilha para a “hora da notícia”, quando os pais descobrem
que seu filho (nascido ou em gestação) tem Down. Mas, ainda assim, era leiga.
Como corrigir isso?
Foi aí que decidi cursar Pedagogia. Sempre gostei da área da
Educação, mas nunca havia pensado nisso em termos de formação, talvez por conta
dos comentários que via sobre a desvalorização do professor. Mas eu tinha
certeza de que era isso que devia fazer, e fui em busca. Durante os três anos
da faculdade, fiz um trabalho “de formiguinha”, levando a consciência da
inclusão para meus colegas e professores. Ministrei palestras sobre o tema duas
vezes (EU, a tímida das tímidas!), vi muitos conceitos arraigados ruindo por
terra, discursos sendo mudados. Valeu a pena! Como não podia deixar de ser, meu
TCC foi sobre a inclusão na Educação, e eu inovei na dedicatória, dedicando-o aos
meus amores através desta imagem:
Nessa época eu comecei a amadurecer a ideia de adotar uma
criança com Down. Algo que já tinha comentado algumas vezes como sendo uma
coisa distante, mas não impossível, passou a tomar forma. Comecei a me
informar, a ver os procedimentos necessários... as enchentes (aquelas!)
atrasaram um bocado os meus passos, mas hoje estou mais próxima da realização.
Estou habilitada, aguardando (não passivamente, mas em busca), a minha
menininha. :D
Eu só não atuo na área da Educação ainda por causa de um
reviravolta que me fez desviar do caminho quando estava no último ano do curso:
fui chamada em um concurso que havia prestado para o Banco do Brasil anos antes.
Eu passava um período muito complicado, e um emprego com a estabilidade que eu
teria ali era quase um sonho! Só que se tornava impossível conciliar o trabalho
em escola (a não ser que eu pensasse em termos de EJA) com o banco. O que
fazer?
Parti então para a pós em Educação Inclusiva. DE-TES-TO este
termo, mas era o nome do curso... Educação Inclusiva pressupõe que existe uma
Educação Exclusiva, o que é totalmente inaceitável no meu entender. Mas fiz a
pós visando lecionar em faculdade, ajudar na formação de outros professores e,
por tabela, um número bem maior de crianças. Este sonho ainda não foi
realizado, mas não desisti dele não! ;)
Mais do que isso: continuo estudando e me informando sobre os
conceitos de Educação pelo mundo afora. Cada vez mais tenho certeza de que não
sou maluca ou, pelo menos, não sou a única por aí, que percebe como esse modelo
ainda vigente (na maioria das escolas, pelo menos) de aula expositiva, aluno
passivo, enfileirado, ouvindo, ouvindo, ouvindo, está ultrapassado. Muito precisa
ser mudado aqui no nosso país (falei disso outro dia, lembram?), e sonho,
muito, poder contribuir para essa mudança. Como? Ainda não sei. Mas eu também
não sabia o que aquele “imã para Down” significava, e a coisa toda “despencou”
em minha cabeça!!! :D
A verdade é que essa trajetória toda começou lááááááá em
1988... começou pelo despertar de um amor intenso, profundo, por essas pessoas
lindas de olhos amendoados. Então... bora comemorar o dia deles, celebrar a
inclusão e fazer, cada um, um pouquinho que seja para que ela se torne
realidade de fato? ;) Conto com vocês!!!
Eu volto.
Andrea
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