terça-feira, 21 de abril de 2015

Tancredo... trinta anos


Hoje faz 30 anos que perdemos um grande líder. Um líder que nos livrou da ditadura militar e que acabou falecendo sem assumir a presidência. :'(  Como teria sido se ele tivesse sido empossado? Quem pode saber? Mas a esperança por dias melhores era grande... e vendo pessoas hoje pedindo a volta da ditadura, torna-se impossível não lembrar daquela época. Da união popular em prol de um sonho de democracia. Retroceder será a solução? Aquela luta toda foi em vão?

Em janeiro, quando se comemorou os 30 anos da eleição no Colégio Eleitoral, que elegeu Tancredo Neves, tive a oportunidade de assistir um filme maravilhoso, que retrata aquela época em detalhes, e que deixo aqui para quem se interessar em relembrar ou conhecer uma fase riquíssima de nossa História. ;)



A quantidade de lembranças que este filme me trouxe, a quantidade de emoções que revivi... eu tinha apenas 13 anos quando o processo de redemocratização do Brasil se iniciou, mas lembro muito vivamente de tudo o que aconteceu. Da ditadura, propriamente dita, sei pelos comentários de meus pais, que viveram aqueles anos tão complicados, viram amigos sofrerem as sanções impostas pelo governo, pessoas desaparecerem por serem consideradas "subversivas", a censura implacável de nossos artistas... ainda assim, um fato me marcou, quando tinha 12 anos, e que representa, bem de leve, o tamanho dos absurdos vivenciados naqueles tempos.

Era final do governo Figueiredo, e a ditadura àquela época já estava bem mais "light". Ainda assim, vivenciei uma situação na escola que foi, no mínimo, surreal. Eu estava na 6ª série, e estudava a disciplina de Educação, Moral e Cívica. Quem lembra dessa "delícia"? :/ Chega final do ano descubro, surpresa, que havia pegado recuperação na bendita. Não que fosse uma excelente aluna, ficava na média, mas não esperava por aquilo, lembrava que tinha feito a prova com tranquilidade, então meu pai foi à escola e pediu vistas à prova. 

A prova era inteira de questões do tipo "qual sua opinião sobre", "o que você pensa a respeito de", como alguém poderia dizer se estava certo ou errado? :/ Obviamente, ele questionou a escola, e recebeu a resposta de que eu deveria ter respondido "como estava no livro". Ele ficou revoltado! Oras, se a escola queria a opinião do autor, que colocasse as questões de outra maneira! Ainda foi mais contundente, disse que em casa estávamos acostumados a pensar por conta própria e não por imposição dos outros. Milagrosamente, depois disso tirei uma nota bem alta na prova de recuperação... :)

Mas era essa a realidade daquela época. Só se podia "abrir a boca" para falar aquilo que os militares aprovavam. Quem fosse contra estava sujeito à prisão, tortura, exílio, a desaparecer sem deixar rastros! Então, no ano seguinte, 1984, iniciou-se uma campanha em favor das eleições diretas, para que o povo pudesse finalmente eleger seus governantes. Foram diversos comícios desde o início do ano, "explodindo" no mês de abril em manifestações gigantes na Candelária (RJ) e no Vale do Anhangabaú (SP). O povo vestindo amarelo, batendo panelas, lutava pelo direito ao voto. :D

Na véspera da votação da emenda à Constituição vigente, de autoria de Dante de Oliveira, um panelaço pedia a sua aprovação. Lembro tanto dessa votação... meu pai estava em Brasília, em alguma reunião por causa da Telesp, onde trabalhava, e não conseguia acompanhar. Eu e minha mãe assistimos juntas à transmissão, voto a voto, sentadas na cama dela e ele ligando, de tempos em tempos, querendo saber o resultado. A emenda foi recusada, claro. :(

Mas o povo não se calou, nem parte dos políticos que se uniram para lançar a candidatura de Tancredo Neves à presidência. Seu opositor? Paulo Maluf! Aquele mesmo que hoje se diz democrata, foi candidato pelo lado dos militares! Afora tudo o que pesa contra ele, só este fato já é motivo de sobra para eu jamais querer nem ouvir falar neste senhor! :/ No final de 1984 aprovou-se, ao menos, que a eleição no Colégio Eleitoral fosse aberta. O povo saberia, portanto, o voto de cada um dos deputados.

E assim foi... impossível esquecer aquele 15/01/1985... nós voltávamos de férias do Rio para São Paulo, pela Dutra, com o rádio ligado acompanhando a votação. Tínhamos receio, é fato, de que uma vitória de Maluf desencadeasse uma revolta popular, e corríamos o risco de chegar em meio à confusão. Então, cada voto para Tancredo aumentava nossa animação! Lá pelas tantas, paramos em um posto de gasolina, para um lanche, banheiro, mas faltavam apenas dois votos para que ele se sagrasse vencedor. Meu pai não nos deixou sair até que estivesse tudo certo! Entramos na lanchonete na maior festa, todo mundo comemorando!!!  :D :D :D Era o fim da ditadura militar! Yes! :D

A ansiedade pela posse de Tancredo, a ser realizada em 15/03 chegava a ser palpável! Entretanto, na véspera, fomos todos surpreendidos por sua internação para uma cirurgia de emergência. :( Assumiu em seu lugar José Sarney, o vice, mas a esperança era de que fosse algo passageiro, rápido, pois Tancredo ficaria curado e assumiria o cargo que lhe era de direito. Ledo engano... ao invés de melhorar, as pioras foram se sucedendo... novas cirurgias, transferência para São Paulo... a cada vez que tocava aquela "bendita" musiquinha do plantão da Globo o coração ia à boca! Tenho trauma desta música até hoje! :'(

Em 21 de abril, aniversário de minha tia, passamos o dia fora. Vimos o boletim antes de sair, vimos novamente quando chegamos em casa, e a situação se mostrava irreversível. O clima estava pesado, todos aguardando o desfecho que se mostrava inevitável. Lembro que fui me deitar apreensiva, e não custou muito para ouvir, mais uma vez, aquela música do plantão.   :( Do meu quarto, ouvi as palavras de Antonio Britto, que tanto temia e que jamais esqueci: "Lamento informar que o excelentíssimo senhor presidente da República, Tancredo de Almeida Neves, faleceu esta noite, no Instituto do Coração, às 10 horas e 23 minutos".

Em seguida, entrou a Fafá de Belém cantando o Hino Nacional de uma forma tão bela quanto emocionante, enquanto as lágrimas de todos em casa rolavam soltas. :'(

Eu volto.

Andrea

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