domingo, 18 de janeiro de 2015

De novo a pena de morte em discussão...


E olha eu aqui de novo!!! :D Falei que seria mais ativa, né? Por enquanto está funcionando!!! ;) Eu já tinha pensado em um próximo post, na verdade, colocando um texto do meu pai. Mas a polêmica em torno da execução do brasileiro Marco Archer, na Indonésia, onde foi condenado por tráfico de drogas, antecipou tudo.

Os comentários que encontrei por aí foram os mais diversos. De um lado, os que se posicionaram contra, fosse por pena, ou por convicção religiosa, ou mesmo por crença própria, de que não pode o homem decidir pela vida ou morte de seu igual. Por outro lado, os que se posicionaram a favor, afirmando que ele "mereceu" aquele destino, por ser traficante, por ter ido para um país onde a lei "funciona". O segundo grupo, aliás, em boa parte afirmou seu desejo de termos, aqui no Brasil, leis semelhantes. Complicado, polêmico... :/

Mais uma vez, a intolerância se fez presente, em especial através do grupo dos "a favor", que tomados pela raiva e pela revolta, acusam aqueles que são contra o ocorrido de defenderem um criminoso, de transformarem um criminoso em herói, de só o estarem defendendo por ser brasileiro, entre outras coisas. Mas a questão é mais profunda.

Pena de morte. Eu sou contra, sempre fui. Não acredito que haja diferença na morte infligida de um ou outro lado da lei. Se é bandido é crime, se é determinado pelo juiz é justiça. Para mim, é tudo igual. Não acho que ser humano nenhum tem direito de dispor sobre a vida de seu semelhante, seja por que motivo for. Um erro não justifica o outro. Não podemos nos "nivelar por baixo". Só Deus tem a capacidade e a sabedoria para determinar quando o ciclo da vida de cada um de nós termina. Portanto, meu lamento não é pelo Marco Archer apenas, mas por todos os que foram executados ontem, e antes deles, e que serão executados após eles. Na Indonésia ou em qualquer outro lugar.

O tráfico de drogas é um crime gravíssimo, não há dúvida. Como tal, deve ser punido, da mesma forma que qualquer outro crime. Mas não com a morte. Decidir a morte de um indivíduo não é de competência de homem nenhum. Simples assim.

Mas meu pai, há muitos anos atrás (creio que mais de vinte) escreveu um texto que já usei aqui no blog, mas que continua tremendamente atual. Um dos melhores dele, eu acho, uma obra-prima. Nunca é demais relê-lo. E é este texto que deixo aqui para a reflexão de todos.

Eu volto.

Andréa

PENA DE MORTE: O HOMEM SE DIZENDO DEUS...
Ronaldo Tikhomiroff

A cada novo crime, dito hediondo ou bárbaro, com que nos deparamos, voltamos a ouvir o clamor generalizado da instituição da pena de morte em nosso país, uma solução simplista para se tentar corrigir um mal produzido pelo próprio homem.

É triste, muito triste, se constatar que o bicho-homem está cada vez mais se tornando bicho do que homem. Como se já não bastasse a pena de morte decretada aos que morrem de fome, de frio, de doenças por total descaso ou insensibilidade do próprio homem para com seus semelhantes, vemos agora, com a justificativa de aplacar a indignação geral face aos crimes bárbaros recém perpetrados, a volta dos apologistas da pena de morte, pobres de espírito que, à falta de coisa melhor, se voltam para a animalesca solução do extermínio institucionalizado daqueles que, seja por que motivos for, praticaram um crime bárbaro ou hediondo, como virou moda falar.

Com que direito o homem se apropria da vida alheia? Se criminosos há, como de fato há, cabe a nós, pobres mortais, julgar algo que transcende nosso próprio conhecimento - pois não somos simples formas animais de vida? A cada ser humano foi dado o direito e o privilégio de viver e conviver com nossos irmãos da Natureza neste planeta, onde a harmonia e a fraternidade deveriam imperar. Através do mau uso do seu livre-arbítrio, o homem se afastou de seus princípios e se tornou, cada vez menos divino, cada vez mais animal, onde sequer respeita seus próprios semelhantes.

Através da criação de fronteiras, o homem retalhou o planeta que o recebeu, com toda a honra, como hóspede e com isso plantou a discórdia. Criou o dinheiro e colheu a ganância. Criou o progresso econômico e devastou a casa que o acolheu. Seu livre-arbítrio acabou por levá-lo a destruir seu próprio habitat, deixando-o sem perspectivas de sobrevivência. Sua sede de poder levou-o a guerras onde só conseguiu a destruição e o aniquilamento de seus semelhantes, que deveriam ser amados por ele.

Pobre bicho-homem! Agora, em um país destruído pelo famoso "jeitinho" e não menos famosa "lei de Gerson" ou "lei da vantagem a qualquer custo", que chega ao 1o.mundo com notícias de corrupção, matança de crianças, e coisas afins, renasce não o movimento neonazista, não o movimento racista, mas algo tão ou mais detestável: o movimento pela instituição da pena de morte. Em outras palavras, o atestado de incompetência e de total degradação do ser humano: seu ego tenta fazê-lo SENHOR DA VIDA, título que, ao que sabemos, pertence a alguém bem mais nobre e sábio: DEUS.

Antes de se voltar para uma reação de pura vingança, travestida de "medida preventiva" para coibir novos casos bárbaros, o homem deveria procurar entender a própria vida e a sua própria espiritualidade. Todas as seitas, religiões e movimentos espiritualistas pregam a luta do bem contra o mal. Porém, o que é o bem? QUEM definiu o que é bem e o que é mal? Existiria o conceito do bem, sem a existência do mal? Será Deus uma entidade malvada, que se utiliza de dois pesos e duas medidas? Será Ele tão pequeno assim?

Não podemos discutir, se é que cabe discussão, o problema da pena de morte sem levarmos em conta, e em primeira instância, a espiritualidade e a transcendência da vida espiritual. Afinal, todas as seitas, religiões e afins têm como verdade estes conceitos. Se no passado o homem-religioso sacrificava seus semelhantes para "aplacar a ira dos deuses", e hoje abominamos tal prática, como podemos aceitar o sacrifício de vidas humanas para "aplacar a ira dos homens"? Será o homem superior a seu próprio Criador? Será que o homem está-se intitulando DEUS? Será que chegamos a mais este absurdo?

Se tentarmos criar uma escala de valores para os males causados pelo ser humano a seus semelhantes, atribuindo a cada item uma penalidade, onde ficam classificados os crimes hediondos? Afinal o que é crime hediondo? não seria também hediondo se privar milhões de pessoas de seu único meio de sobrevivência atual, as suas economias? Quantos perderam suas esperanças, não puderam atender suas necessidades básicas de saúde, alimentação, quantos perderam a própria vida pela irresponsabilidade de uns poucos que se intitularam salvadores da pátria em um passado recente? Seriam estes passíveis de pena de morte? Aqueles que desviam os recursos arrecadados de uma população cada vez mais pobre, recursos estes destinados aos programas de saúde, aqueles que aviltam os preços de medicamentos e alimentação básica, levando seres humanos à morte, muitas vezes com muito sofrimento, seriam condenados à morte? não são estes também assassinos frios e calculistas, traidores da confiança de seus semelhantes? Tem o homem realmente a noção do CERTO e do ERRADO?

Estamos neste planeta, hoje encarnados, por algum motivo. Isto nos parece óbvio, sob qualquer prisma espiritualista. Se aqui estamos, devemos HONRAR a vida que nos foi dada pelo amor de nosso Pai. Todos temos que desempenhar nossos papéis da melhor forma possível, voltados sempre para a HONRA de estarmos vivos. Se alguns de nossos irmãos, pois os criminosos hediondos TAMBÉM SÃO NOSSOS IRMÃOS EM DEUS, agem de forma a nos causar danos, por vezes até mesmo a morte, devemos ter por eles um sentimento de culpa, um sentimento de respeito, um sentimento de amor, pois eles não souberam HONRAR sua vida, talvez até por não lhes termos dado esta chance, e somente Quem lhes deu esta dádiva pode julgá-los. Se passamos por momentos de dor, causados por esses irmãos, não serão eles agentes involuntários de uma situação que DEVERÍAMOS passar em nossa caminhada? Conhecemos nossas vidas passadas? Não fomos, em qualquer tempo, iguais a eles e não nos foi dada outra chance de nos redimir? A redenção é a vingança? Quem somos nós para julgar os desígnios de Deus?

Se olharmos em nossa volta, verificamos que o caos está cada vez mais presente em nosso mundo. O homem parece ter conseguido despedaçar a harmonia em todo o planeta. Tudo o que hoje estamos colhendo é fruto de nossa própria sede de poder, ganância e descaso com nossos semelhantes, em última análise, com nosso Criador. NÃO SOUBEMOS HONRAR A DÁDIVA DE ESTARMOS AQUI! Esta é a grande verdade, doa a quem doer. Se os animais procuram, através de seu instinto, manter o equilíbrio em seu habitat, se os animais EXPULSAM seus irmãos de espécie que praticam algum crime, nós, os seres ditos humanos, querendo ser maiores do que Deus, nos tornamos piores do que os animais, pois pensamos em MATAR nossos irmãos de espécie. Como somos pobres!

Se hoje vemos o desamor e o total descaso pela vida, no sentido mais elevado, manifestados pela grande maioria da raça humana terrestre, devemos entender que é por nossa única culpa, por havermos nos afastado de nossas origens, as quais olvidamos em passado longínquo e tentamos buscá-las sem sucesso por séculos e séculos. O homem criou seitas e religiões baseadas em algo que ele conhecia, mas não sabia explicar. Afinal, como explicar através do raciocínio leis transcendentais? A própria ciência humana hoje se contradiz a cada instante!. As próprias seitas e religiões, cujos fundamentos são únicos e verdadeiros quaisquer que sejam seus nomes, também se afastaram de suas origens e não souberam aplacar a Grande Dúvida: POR QUE ESTAMOS AQUI? POR QUE TEMOS QUE MORRER? O QUE É, AFINAL, A MORTE? A falta de sucesso no aplacamento de tal dúvida, que seria, em última análise, a verdadeira FÉ, a certeza interior e inquebrantável, levou o homem a desistir e se transformar em um verdadeiro parasita para o planeta e para seus próprios semelhantes.

Da mesma forma que hoje o homem procura "remendar" o planeta, destruído por suas próprias ações, também hoje procuramos "consertar" nossos semelhantes através de penas desumanas, irracionais ou bestiais. Mais uma vez o ser humano estará satisfazendo seus instintos animalescos, deturpados pela sua própria história. Estará satisfazendo a vontade do Pai? Se assim o fosse, o próprio Pai se incumbiria dessa tarefa macabra! Porém, sem sombra de dúvida, Ele é muito maior, muito mais sábio!

O que fazer? Como lidar com os ditos criminosos hediondos? Evidentemente não será matando-os que estaremos contribuindo para a reversão do caos. Soluções humanas existem. Através da educação, da saúde, do RESPEITO AO PRÓXIMO, e do amor à vida, podemos construir, ou melhor, reconstruir um mundo melhor. Mas a verdadeira solução está dentro de nós mesmos. Quando deixarmos de querer ser Deus através de nossa mente e de nossas emoções e passarmos a ser Deus através de nossa aspiração e nossa ligação espiritual com o Todo. Afinal, numa dimensão superior, transcendental, cósmica, aí sim, somos DEUS!

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